terça-feira, 8 de abril de 2008

Zen e a arte de Manutenção de Motocicletas

"Refiro-me à paz de espírito interior, que não tem relação nenhuma com as circunstâncias exteriores. Pode ocorrer num monge em meditação, num soldado em combate ou num mecânico que tira com a lima aquele último milésimo de centímetro. Envolve um esquecimento de si que produz a perfeita identificação com as circunstâncias. Existem diversos níveis de identificação e diversos níveis de quietude, tão profundos e tão difíceis de atingir quanto os níveis superiores de atividade, mais conhecidos. As montanhas da realização exterior são descobrimentos da Qualidade efetuados numa única direção; são relativamente insignificantes e quase sempre inalcançáveis, a menos que sejam buscados juntamente com as profundezas oceânicas da auto-consciência - que não significa lembrança de si - resultantes da paz interior do espírito.

Essa paz interior ocorre em três níveis. A quietude física parece a mais fácil de obter, embora também tenha diversos graus, como provam os místicos da Índia, que conseguem permanecer enterrados vivos por vários dias. A quietude mental, que elimina os pensamentos errantes, parece mais difícil, mas pode ser alcançada. Já a quietude dos valores, na qual a pessoa não tem nenhum desejo errante, mas simplesmente executa sem nenhum desejo os atos de sua vida - essa parece ser a mais difícil de todas."

Robert Maynard Pirsig

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Esse é um dos livros mais geniais que li, e me identifico bastante com o Pirsig por razões que quem conviveu comigo sabe. É um livro onde ele procura, em discursos no meio de uma viagem com o filho, lançar uma fundação que unifica o que ele chama de realidades clássica e romântica, a discriminação e os sentidos, fazendo-os gravitar em torno desse conceito que ele chama de Qualidade. A união entre a ciência e a arte, entre a tecnologia e a natureza, entre a loucura e a genialidade. Pirsig vai confrontando a realidade da mecânica conceitual com a percepção direta que é aclamada no Zen, e faz esse paralelo na medida que viaja e vai cuidando de sua tecnologia, a motocicleta que o carrega nas estradas nessa viajem pelo renascimento de uma parte silenciada de si.

É meio beatnik, porém zen, meio viajante, porém iluminista. Altamente recomendável.

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