quinta-feira, 26 de março de 2009

O Gasoso, O Borroso e A Estetização Difusa da Contemporaneidade

por Guy Amado - Julho de 2005

Nos tempos turbulentos e "acelerados" em que vivemos, a existência se conforma em meio a uma profusão de códigos e padrões comportamentais cambiantes, hibridismos de toda espécie e ao surgimento de novas modalidades de pensamento, mais especializadas. A classificação de pós-moderno como emblema de uma época ou estado da cultura foi exaustivamente aplicada de diversos modos desde meados dos anos 1970, na tentativa de se buscar uma teoria que traduzisse o zeitgeist das últimas décadas. Fosse como definição de um estilo ou estado de espírito advindo de certa insatisfação com o modernismo na arte e na literatura, como tendência filosófica ou, ainda, de modo mais raso e abrangente, como a então mais recente época cultural do Ocidente, a teoria da pós-modernidade sempre esbarrava em inúmeras questões e problemas conceituais que se insinuavam tanto na descrição quanto na avaliação da arte e do pensamento que se propunha investigar, sendo hoje considerada superada ou insuficiente para abarcar a complexidade do estado das coisas que conforma a atualidade. O ceticismo que permeava boa parte do discurso pós-moderno [em larga medida vinculado a pensadores da escola estruturalista francesa], investindo na anulação ou suspensão de noções tais como verdade objetiva ou universalidade de significado, foi intensamente combatido por seus detratores, que de modo geral não viam nessa linha de pesquisa uma plataforma suficientemente consistente para abordar com propriedade a complexidade dos eventos que se propunham analisar.

Nesse contexto, fez-se pertinente a busca por outros canais de identificação com a realidade e as transformações de nossa era, mais atualizados e adequados à confecção de um diagnóstico da mesma; e um deles pode estar no que vem sendo descrito como uma "estetização difusa do mundo contemporâneo", como afirma o crítico de arte e teórico da estética Jose Luis Brea[1] . A importância da estética como interpretante do mundo contemporâneo é trabalhada e afirmada continuamente, em registros diversos, em teorias oriundas de diversas áreas do conhecimento, como a sociologia, a filosofia, a antropologia, a semiótica e ciências exatas como a matemática, a física e a cibernética. Investe-se mais e mais no excesso de especialização e na idéia de transdisciplinaridade, que se impõe como método procedimental mais afeito à investigação de fenômenos não mais passíveis de serem analisados em termos absolutos.

Seja qual for o juízo que se possa fazer sobre a ocorrência desse fenômeno da estetização, parece inevitável remeter sua origem à expansão das indústrias audiovisuais e de massmedia e à iconização exaustiva do mundo contemporâneo, associada à progressão das indústrias da imagem, do desenho e da publicidade. Esse fenômeno implicaria em conseqüências fundamentais sobre os modos de nossa experiência – e ainda sobre a própria constituição efetiva dos mundos da vida, sobre a constituição do real, mesmo que nem sempre nos apercebamos do fato.

Este mundo "estetizado" e debilmente definido, carente de alguma consistência em que assentar algum princípio firme de valoração das práticas - tanto estéticas como éticas – seria um mundo em que o homem já haveria perdido qualquer possibilidade de estabelecer seu próprio projeto frente à ascensão da tecnociência, no enfoque reticente de Brea. É também o mundo hiper-real diagnosticado por Jean Baudrillard, em que a cultura do simulacro e a polissemia de signos prevalecem sobre o cânone da representação, colaborando na configuração de uma experiência difusa em nossos modos de apreensão do mundo.

Nas sociedades atuais, a forma contemporânea de disseminação desta estetização supõe uma dinâmica claudicante, nos termos estabelecidos pelas ascendentes e poderosas indústrias do espetáculo e entretenimento, sob cujas regras e ditos se estrutura contemporaneamente a própria lógica da instituição "Arte". Uma lógica cujo enorme potencial de absorção parece desmobilizar qualquer gesto de resistência, qualquer tensão crítica, convertendo toda a retórica vanguardista da autonegação em uma falsa aparência requerida pelo jogo de interesses criados, aquela do choque e do "novo" que os próprios interesses de renovação periódica dos padrões dominantes do mercado institucionalizado de arte impõem. Mesmo as recorrentes "mortes da arte" contemporânea, para além de servirem para retro-alimentar a especulação no bojo desse mesmo mercado, se expressam nos termos de uma estetização generalizada dos mundos da vida e as formas da experiência.

À esta idéia de uma estetização difusa das sociedades atuais, desse ruído que permeia os modos de vida e as formas da experiência - a própria realidade, justaposta desta maneira ao mundo da cultura e da arte -, poder-se-ia contrapor dois outros conceitos específicos que de alguma maneira potencializam ou alargam o alcance daquela.

A primeira noção a ser aqui abordada, a propósito do referenciado processo de estetização difusa por que o mundo vem passando, e que certamente se alinha, em sua plataforma eminentemente relativista, provocativa e instigante, a algumas outras vertentes do pensamento contemporâneo, seria a teoria da "borrosidad", ou fuzzy logic - doravante levianamente aliterada para borrosidade -, tal qual postulada por Bart Kosko[2] . O pensamento borroso sustenta de modo geral que a forma de raciocinar em termos absolutos de verdadeiro ou falso já não nos serve, e que é preciso aplicar uma lógica "nebulosa", que capte os matizes acinzentados do mundo real, onde nada é absolutamente preto e branco. As verdades e certezas tomadas como relativas, e as "áreas cinzentas" traduzidas num modo de raciocínio por aproximação, ao invés da exatidão, permitiriam reflexões e descrições mais adequadas para determinados aspectos da realidade que nos cerca que o pensamento da lógica binária aristotélica.

A investigação dos fenômenos que abarcam a experiência da contemporaneidade pelas vias difusas da borrosidade consistiria, assim, em procurar compreender o mundo em suas nuances "cinzentas", em detectar a policromia de cinzas. Ao se aplicar um raciocínio amparado no binômio "preto-no-branco" para tentar compreender ou explicar um mundo cinzento, deve-se tratar algo que é tomado como verdadeiro em certa medida como se fosse ou inteiramente verdadeiro ("o copo está cheio") ou inteiramente falso ("o copo está vazio"). Cada passo em um processo racional requer uma simplificação desse tipo e, portanto, tende a adicionar outra camada de arbitrariedade e erro ao mesmo processo.

Abramos um parêntese para uma breve digressão acerca de alguns aspectos determinantes na da arte na atualidade. Se em outras épocas a arte já foi entendida como uma imagem da realidade, para a qual a história da arte oferecia uma moldura, na contemporaneidade porém ela já "escapou" desta moldura. As definições tradicionais já não dão conta de abarcá-la, com uma profusão de novas práticas proliferando, e não apenas valendo-se de meios e linguagens plásticas, mas originando-se de mídias eletrônicos ou de propostas envolvendo a biotecnologia, etc. Deslocando um pouco o foco, as práticas do âmbito das artes visuais nos dias de hoje ocupam também um espaço social paradoxal, a um só tempo "dentro" e "fora" da sociedade. Por um lado, elas estão plenamente integradas ao tecido cultural, social e econômico ocidental, onde existe uma poderosa rede pública e privada (galerias, museus, fundações, Bienais) que apóia e promove a arte contemporânea por meio de diversos mecanismos (aquisições, subsídios, isenção fiscal) e torna possível que o investimento em arte seja uma prática relativamente estável no mercado financeiro internacional. Mas apesar disso, a arte ainda parece ocupar uma posição relativamente marginal na sociedade atual, como se fosse apenas um elemento decorativo ou uma espécie ameaçada de extinção, mantida num santuário para garantir sua sobrevivência [de fato, em termos culturais, outras manifestações expressivas, como a música, cinema ou televisão têm relevância social muito mais intensa]. A produção artística, que em outras épocas causou grande impacto em sistemas sociais, tende a ser agora encarada como um tipo de excentricidade inofensiva, sendo avaliada com certa condescendência, em muito por conta de fatores como a banalidade que reveste sua prática hoje e a implacável lógica mercantil que a um só tempo a difunde e restringe ou amortece seu potencial transformador. A borrosidade apresentaria um instrumental adequado a uma análise do estatuto ambíguo que conforma o sistema da criação e circulação da arte hoje, fornecendo talvez uma via de acesso que permita introduzir "nuances de cinza" sobre esse cenário. Verificar, por exemplo, em que medida é ainda possível ou relevante pensar no significado visual e verbal da arte, frente às demandas e imposições do mercado e da presente cultura do espetáculo - em que a importância da obra de arte [e não raro do artista] é mensurada em termos da publicidade e da notoriedade por ela atingida; e, em caso positivo, descobrir quais seriam as mecânicas de suas instâncias de comunicação.
* * *
Nesse panorama a um só tempo complexo e fugidio dos dias que vivemos, em pleno curso de um processo de globalização que se desenrola de modo tão inexorável quanto incerto, desenhou-se uma nova configuração cultural e sociopolítica do mundo que ressalta contrastes e acena com o abalo de crenças e o fim de utopias. A dinâmica que modularia a forma contemporânea do homem embater-se com o real, sua mediação com o mesmo, se dá sob a égide de uma potentíssima indústria da comunicação e impressionantes avanços tecnológicos que mais e mais influem diretamente em nossos modos de vida. Fez-se mister, assim, desenvolver novas formas de se analisar e assimilar o impacto dessas transformações junto à esfera da existência cotidiana. De modo emblemático dessa nova ordem mundial e da perda de referenciais inferida já em boa parte do pensamento pós-moderno, muitas dessas leituras - executadas por teóricos de áreas heterogêneas como a física, a economia política ou a filosofia - adotam um tom perpassado por certo "desencanto" - ou mero cinismo, como preferem os menos afeitos ao grau de abstração incutido nessas propostas. Desencanto a não ser necessariamente interpretado como um enfoque pessimista ou a ser associado de pronto à idéia de negatividade, constituindo-se antes como uma tática de abordagem que visa a formulação de diagnósticos mais compatíveis com o estado das coisas de seu tempo e ao surgimento de novas poéticas ligadas à incerteza e a definições incertas de formas e valores. Algumas dessas análises, contudo, até pela natureza relativamente "volátil" ou instável do objeto a que se dispõem analisar, eventualmente se baseiam em estruturas conceituais destoantes daquelas apregoada pelas convenções de sistemas de pensamento mais, digamos, tradicionais.

Ilya Prigogine, por exemplo, essencialmente um homem da ciência, interessado em analisar o papel e aproveitamento da mesma na sociedade e no futuro da humanidade, provocou estardalhaço e renovou a inter-relação entre ciência, filosofia e cultura quando chamou a atenção para as estruturas dissipativas da realidade [fenômenos de criação de ordem distantes do referencial de equilíbrio estabelecido pelas leis da termodinâmica, ou sistemas em não-equilíbrio] e o "fim das certezas", valendo-se também da Teoria do caos e do conceito de complexidade [que não caberia tratar aqui de forma mais demorada mas que grosso modo denotaria, na avaliação de teóricos especializados, que as coisas não apenas se "complicam", mas de alguma forma também se multiplicam, indo muito além do que seria um todo apenas justaposto, somado]. É evidenciada, na obra de Prigogine como na de pensadores atuantes em outros campos do saber, a importância da atuação da ciência contemporânea, imiscuída à filosofia ou a outras áreas, na relativização do conhecimento absoluto, estanque, e desestabilização do poder das "verdades" científicas – uma guinada na forma de se pensar o mundo que apresenta traços comuns, ainda que em graus diversos, com outras teorias abordadas neste texto.

É nesse contexto que se apresenta a segunda noção, ou conceito, igualmente emblemática da estética difusa da presente era supermoderna ou pós-industrial, proposta pelo filósofo Yves Michaud nos termos de uma arte em estado gasoso[3] – que poderia ser descrita em termos gerais como uma arte em que importa menos o objeto em si do que a experiência fugidia, flutuante, do receptor, ou espectador.

A produção artística atual, com a profusão de estilos, gêneros e subgêneros que lhe é peculiar, se apresentaria assim como uma “arte em estado gasoso”, na medida em que ela tende mais e mais a se expandir para todos os lados, assumindo uma fisionomia e uma dinâmica de apresentação volátil – num movimento que radicaliza a tendência que já se tentou definir como desmaterialização na arte -, além de romper com antigos dogmas como a premissa da "obra exclusiva". A arte contemporânea pode ser entendida, mesmo em seu presente estatuto incerto, como uma dentre muitas "realidades alternativas", com seu próprio conjunto de presunções tácitas, procedimentos e mecanismos abertamente proclamados para sua auto-afirmação e autenticação, tendo alcançado certo grau de independência da realidade "não-artística". Uma de suas características mais acentuadas reside numa perda sensível de seus elos tradicionais com o compromisso da "representação": ela já não admite que a "verdade" a ser captada pela obra de arte se ache em ocultação "exterior" – na realidade não–artística – esperando ser encontrada e receber uma tradução artística. Em vez de refletir a vida, ela passa a se somar a seus conteúdos, por meio de imagens e signos que mediam esse processo e que não mais representam, mas simulam – e a simulação, como postulado por Baudrillard, "...se refere a um mundo sem referência, de que toda referência desapareceu"[4]. Essa perda ou mudança de referenciais no âmago da visualidade contemporânea certamente contribui de modo incisivo para acentuar uma percepção "gasosa" da realidade.

A arte em estado gasoso apresentaria duas facetas ou tipos de "função": de um lado, uma hedonista, voltada para o prazer – mas uma nova forma de prazer, marcada pelo signo do cool, insinuante; e de outro, uma função expressiva cujo objetivo é demarcar identidades – inclusive suas próprias. Pensa-se aqui, segundo Michaud, em uma arte que tenha a ver com o jogo, a diversão, com práticas de lazer, mas contaminada por temas e referências cada vez mais provenientes de universos em princípio a ela estranhos; processo no qual essa arte, e a própria instituição-arte perdeu, em certa medida, parte de sua dimensão aureática, no sentido de simbolizar uma realidade transcendente, ou a "proximidade que manifesta uma distância", na bela definição de Walter Benjamin ("proximidade" esta que definitivamente parece não ter mais lugar na experiência de fruição da arte contemporânea; e, indo um pouco mais longe, se poderia acrescentar que a própria estética "não mais se revelaria como uma propriedade essencial ou definidora da arte"[5]). Uma arte ainda calcada na experiência e no sensitivo, que se dá em uma época em que as capacidades perceptivas humanas de base não mudaram, mas sim seus modos de intervenção nas condutas artísticas; e em que a arte, enfim, teria perdido parte de seu poder de transformação. E o modo como a experiência estética se dá no bojo desta arte é cada vez mais nebuloso: se o seu repertório aumenta, se vê reduzida na mesma proporção a capacidade de atenção e fruição do espectador diante da mesma, em função do bombardeio de informações e estímulos visuais e subseqüente instâncias de "anestesiamento" a que nosso olhar vem sendo submetido, bem como à profusão de códigos específicos que passaram a ser requeridos para a efetivação desta experiência pela produção contemporânea.

O termo "estado gasoso" designaria assim um estágio determinado da evolução da cultura, um momento em que a arte certamente se volatiliza enquanto objeto, mas que [ainda] permite uma compreensão hedonista da experiência estética – de natureza envolvente mas flutuante e instável.
* * *
Para concluir, essas questões e teorias sugerem que vivemos num mundo em que os fenômenos, como lembra Omar Calabrese[6], "já não falam por si sós e pela evidência. É preciso construí-los como objetos teóricos". E se não se detecta esta "objetividade imediata dos fatos", por outro lado os significados se apresentam como sugestões, permitindo convites ao seu estudo ou análise [mantendo a possibilidade eventual de sua demonstração], bem como sua interpretação e reinterpretação [também passível de ser realizada no registro da desconstrução]. Pouco ou nenhum significado se apresenta explicitamente; reforça-se a impressão que habitamos um mundo em que os signos flutuam em busca de significados e os significados se deixam levar em busca dos signos, contexto que reforçaria a pertinência da aplicação de conceitos como os que estimulam uma leitura da estética na contemporaneidade pelas vias do "cinza" e do "borroso".

notas:

[1] La estetización difusa de las sociedades actuales y la muerte tecnológica del arte, Madrid: Aleph Pensamiento, 1997.

[2] Pensamiento borroso – La nueva ciencia de la lógica borrosa. Barcelona: Crítica, 1995

[3] L'art à l'état gazeux – Essai sur le triomphe de l'esthétique. Paris: Stock, 2003

[4] In Baudrillard Live: selected interviews, ed. Mike Gane. Londres: Routledge, 1993.

[5] DANTO, Arthur C. After the end of art. Princeton, 1997.

[6] A idade neobarroca. Lisboa: Edições 70, 1988.

terça-feira, 24 de março de 2009

Gregariedades e Administração

"A desarmonia entre nómos e phýsis é invariavelmente responsável por mazelas coletivas, que vão das guerras às pestes. Há, contudo, homens que dedicaram suas vidas à adequação desses dois universos. São médicos e políticos, pensadores que tinham por missão endireitar o nómos em função da phýsis, e, através do nómos, testar os limites dessa phýsis. Eis o princípio do phármakon, eis o princípio da orientação arquitetônica que evita ventos maléficos, incidência solar acentuada, entre outras coisas."

...

et pourquoi pas la gesta?

Nomoi

"Hymn to Nomos.

The holy king of Gods and men I call, heavenly Nomos, the righteous seal of all: the seal which stamps whatever the earth contains, and all concealed within the liquid plains: stable, and starry, of harmonious frame, preserving laws eternally the same. Thy all-composing power in heaven appears, connects its frame, and props the starry spheres; and unjust envy shakes with dreadful sound, tossed by thy arm in giddy whirls around. ‘Tis thine the life of mortals to defend, and crown existence with a blessed end; for thy command alone, of all that lives, order and rule to every dwelling goes. Ever observant of the upright mind, and of just actions the companion kind. Foe to the lawless, with avenging ire, their steps involving in destruction dire. Come, blest, abundant power, whom all reverse, by all desired, with favouring mind draw near; give me through life on thee to fix my sight, and never forsake the equal paths of right."

- Orphic Hymn 64 to Nomos

segunda-feira, 23 de março de 2009

L'Usine d'Energie


Radioactivity - Kraftwerk

Tábua de Esmeralda

“É verdadeiro, completo, claro e certo. O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como ao que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.

Ao mesmo tempo, as coisas foram e vieram do um, desse modo as coisas nasceram dessa coisa única por adoção.

O Sol é o pai, a lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua ama; o Telesma do mundo está aqui.

Seu poder não tem limites na Terra.

Separarás a Terra do Fogo, o sutil do espesso, docemente com grande indústria.

Sobe da Terra para o céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores. Deste modo obterás a glória do mundo e as trevas se afastarão.

É a força de toda força, pois vencerá a coisa sutil e penetrará na coisa espessa.

Assim o mundo foi criado.

Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas. Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegistos, pois possuo as três partes da filosofia universal.

O que eu disse da obra solar é completo.”

Hermes

sexta-feira, 20 de março de 2009

Rock sem Headbanging


Planet Rock - Afrika Bambaataa

Essa música foi uma grande pioneira, e ainda hoje me causa comoção. Princípio do que hoje é o funk carioca e o hip hop mundial. Detalhe: com sample do Kraftwerk.

Just a Fest

Los Hermanos amanhã na Apoteose, abrindo o singelo Just a Fest, com nada menos que os também sabichões Kraftwerk e Radiohead.


O Velho e o Moço - Amarante

quarta-feira, 18 de março de 2009

Atomismo Filosófico

O 'Tetra Pharmakon' de Epicuro:

1. Nada a temer quanto aos deuses
2. Nada a temer quanto à morte
3. É possível ser feliz
4. É possível suportar a dor

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Após Epicuro, aquele modo de vida ficou conhecido como hedonismo, marcado pejorativamente nas classes trabalhadoras. Entretanto, sua filosofia é talvez a mais livre que eu conheça, não-dogmática, e também sem o embate socrático de Platão.

Sua sabedoria era baseada na aponia, a ausência de dor e medo.

Uma pérola.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Epicuro

Vitória

"É muito triste domar a criação."

Chico Xavier.

Pessoa, o Grande

Nasce um deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi. O Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 16 de março de 2009

Ser Yogui


Muito se fala de Yoga hoje em dia, muito mais por modismo e automedicação inconsciente do que por escolha filosófica. Aqui está exposta a base filosófica do Yoga, canalisado por um monge indiano devoto da arte do Espírito Santo deles, Shiva.

Se por ventura você chegou aqui e não sabe do que estou falando, leia. Se sabe, então já estará lendo porque sabe o quão bom é esse negócio.


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YOGASUTRAS DE PATANJALI
(Tradução do Apendix F do livro "Yoga Philosophy of Patanjali "- Swami
Hariharananda Aranya, Publicado por 'Calcutta Universit Press')
Coleção dos Aforismos Yoguis

Livro I
Sobre a Concentração
1. Agora iniciamos a exposição do Yoga.
2. Yoga é a restrição das modificações da mente.
3. Então o Observador permanece nele mesmo.
4. Em outros momentos, o Observador parece assumir a forma da
modificação mental.
5. Elas (as modificações) Têm cinco variedades, das quais algumas são
'Klista' e o resto 'Aklista'.
6. (São elas) Pramana, Viparyaya, Vikalpa, sono (sem sonhos) e
recordação.
7. (Destas) Percepção, inferência e testemunho (comunicação verbal)
constituem as Pramanas.
8. Viparyaya ou ilusão é o conhecimento falso formado a partir de um
objeto como se ele fosse outro.
9. A modificação chamada 'Vikalpa' é baseada na cognição verbal, com
relação a uma coisa que não existe. (É um tipo de conhecimento útil que
advém do significado da pala vra mas que não tem uma realidade
correspondente).
10. Sono sem sonho é a modificação mental produzida pela condição de
inércia como o estado de vacuidade ou negação (do despertar e do
adormecer).
11. Recordação é a modificação mental causada pela reprodução da
impressão prévia de um objeto, sem adicionar nada de outras fontes.
12. Pela prática e o desapego isso pode ser restringido.
13. O esforço para adquirir Sthiti ou um estado tranquilo da mente,
desprovido de flutuações, é chamado prática.
14. Esta prática, quando continuada por um longo tempo, sem
interrupção e com devoção, torna-se firme em seus fundamentos.
15. Quando a mente perde todos os desejos por objetos vistos ou
descritos nas escrituras, ela adquire um estado de absoluto não desejo
que é chamado desapego.
16. Indiferênça para com as Gunas, ou princípios constituintes, alcançada
através do conhecimento da natureza de Purusha, é chamado
Paravaiaragya (desapego supremo).
17. Quando a concentração é conseguida com a ajuda de Vitarka, Vichara,
Ananda e Asmita, é chamada Samprajnata-samadhi.
18. Asamprajnata-samadhi é o outro tipo de Samadhi que surge com a
prática constante de Para-vairagya, que leva ao desaparecimento de todas
as flutuações da mente, permanecendo apenas as impressões latentes.
19. Enquanto no caso de Videhas ou dos desincarnados e de Prakrtilayas
ou dos que subsistem em seus constituintes elementares, é causada por
ignorância que resulta em existência objetiva.
20. Outros (que seguem o caminho do esforço prescrito) adotam os meios
da fé reverencial, energia, recordação repetida, concentração e
conhecimento real (e assim alcançam Asamprajnata-samadhi).
21. Yoguis com intenso ardor alcançam concentração e seus resultados,
rapidamente.
22. De acordo com a aplicação do método, vagarosa, média ou rápida,
mesmo entre os yoguis que têm intenso ardor, existem diferenças.
23. Através de devoção especial a Isvara também (concentração torna-se
eminente)
24. Isvara é um Purusha em particular, não afetado por aflição, ação,
resultado das ações ou as impressões latentes que advém delas.
25. Nele, a semente da onisciência alcançou seu desenvolvimento maior,
não havendo nada mais a transcender.
26. (Ele é) O professor dos primeiros professores porque com Ele não
existe limite de tempo (para sua onipotência).
27. A palavra sagrada que o designa é Pranava ou a sílaba OM.
28. (Yoguis) a repetem e contemplam seu significado.
29. Disso vem a realização do Ser individual e os obstáculos são
resolvidos.
30. Doença, incompetência, dúvida, desilusão, pregriça, não- abstinência,
concepção errônea, não-alcance de qualquer estado yogui ou
instabilidade
para permanecer num estado yogui, estas distrações da mente são os
impedimentos.
31. Tristeza, falta de entusiasmo, inquietação, inspiração e expiração
advém de distrações prévias.
32. Para restringí-las (isto é, as distrações) prática (da concentração) em
um princípio único, deve ser feita.
33. A mente torna-se purificada pelo cultivo dos sentimentos de amizade,
compaixão, boa-vontade e indiferença respectivamente a criaturas felizes,
miseráveis, virtuosas ou pecaminosas.
34, Pela expiração e restrição da respiração também (a mente é
acalmada).
35. O desenvolvimento de percepção objetiva chamada Visayavati também
traz tranquilidade mental.
36. Ou pela percepção que é livre de tristeza e é radiante (estabilidade
mental também é produzida).
37. Ou (contemplando) uma mente que é livre de desejos (a mente do
devoto torna-se estável).
38. Ou tomando como objeto de meditação as imagens dos sonhos ou
dos devaneios (a mente do yogui torna-se estável).
39. Ou contemplando qualquer coisa que o indivíduo queira (a mente
torna-se estável).
40. Quando a mente desenvolve o poder de estabilizar-se nos objetos de
menor tamanho, assim como nos maiores, então a mente está sobre
controle.
41. Quando as flutuações da mente são enfraquecidas, a mente aparenta
tomar as formas do objeto da meditação - seja ele o que conhece
(Grahita), o instrumento de cognição (Grahana) ou o objeto conhecido
(Grahya) - como uma jóia transparente, e esta identificação é chamada
Samapatti ou absorção.
42. A absorção na qual existe confusão entre a palavra, seu significado
(isto é, o objeto) e seu conhecimento, é conhecida como Savitarka
Samapatti.
43. Quando a memória é purificada, a mente parece estar desprovida de
sua própria natureza (isto é, da consciência reflectiva) e somente o objeto
(o qual está contemplando) permanece iluminado. Este tipo de abs orção é
chamada Nirvitarka Samapatti.
44. Através disso (o que foi dito) as absorções Savichara e Nirvichara,
cujos objetos são sutis, são também explicadas.
45. Sutileza pertencente aos objetos, culmina em A-linga ou o imanifesto.
46. Estes são os únicos tipos de concentração objetiva.
47. Ganhando proficiência em Nirvichara, pureza nos intrumentos
internos de cognição é desenvolvida.
48. O conhecimento ganho neste estado é chamado Rtambhara
(preenchido de verdade).
49 (Este conhecimento) é diferente daquele derivado do testimunho ou da
inferência, porque relaciona-se a particularidades (dos objetos).
50. A impressão latente nascida de tal conhecimento é oposta à formação
de outras impressões latentes.
51. Pela restrição disso também (por conta da eliminação das impressões
latentes de Samprajnana), acontece a concentração sem-objeto, através
da supressão de todas as modificações.
Livro II
Sobre a Prática
1. Tapas (austeridade ou vigorosa auto-disciplina - mental, moral e
física), Svadhyaya (repetição de Mantras sagrados ou o estudo da
literatura sagrada) e Isvara-pranidhana (completa rendição a Deus) são
Kriya- yoga (yoga em forma de ação).
2. Este Kriya-yoga (deve ser praticado) para gerar o Samadhi e minimizar
as Klesas.
3. Avidya (concepção errônea sobre a natureza real das coisas), Asmita
(egoismo), Raga (apego), Dvesa (aversão) e Abhinivesa (medo da morte)
são as cinco Klesas (aflições).
4. Avidya é o campo de crescimento das outras, sejam elas dormentes,
atenuadas, interrompidas ou ativas.
5. Avidya consiste em considerar os objetos impermanentes como
permanentes, impuros como puros; miséria como felicidade e o não-Ser
como Ser.
6. Asmita é equivalente à identificação de Purusha ou Consciência Pura
com Buddhi.
7. Apego é esta (modificação) que segue a lembrança do prazer.
8. Aversão é esta (modificação) que resulta da miséria.
9. Tanto no ignorante quanto no culto, o medo, firmemente estabelecido,
da aniquilação, é a aflição chamada Abhinivesa.
10, As sutis klesas são abandonadas (isto é, destruidas) cessando-se a
produtividade (isto é, desaparecendo) da mente.
11. Seus meios de subsistência ou seus estados densos são evitáveis pela
meditação.
12. Karmasaya, ou a impressão latente da ação baseada nas aflições,
torna-se ativa nessa vida ou na vida por vir.
13. Na medida em que as Klesas permanecem na raiz, karmasaya produz
três consequências nas formas de nascimento, tempo de vida e
experiência.
14. Por razão da virtude e do vício, essas (nascimento, período e
experiência) produzem experiências prazeirosas ou dolorosas.
15. A pessoa que discrimina, apreende (por análise e antecipação) todos
os objetos mundanos como marcados pela tristeza, porque eles causam
sofrimento como consequência, tanto nas suas experiências aflitivas,
quanto em suas latências e também por causa da natureza contrária das
Gunas (que produzem mudanças a todo momento).
16. (É por isso que) a dor que está por vir deve ser evitada.
17. Unindo o Observador ou o sujeito com o visto ou o objeto, é a causa
disso que deve ser evitado.
18. O objeto ou o que é passível de conhecimento é por natureza sensível,
mutável e inerte. Existe na forma dos elementos e dos órgãos, e servem
ao propósito da experiência e emancipaç ão.
19. Diversificada (Visesa), não-diversificada (Avisesa), indicador-somente
(Linga-matra), e aquilo que não tem indicador (Alinga), são os estados das
Gunas.
20. O Observador é o conhecedor absoluto. Apesar de puro, modificações
(de Buddhi) são testemunhadas por ele como um espectador.
21. Servir como um campo objetivo para Purusha, é a essencia ou
natureza dos objetos conhecíveis.
22. Apesar de deixar de existir em relação àquele que preencheu seu
propósito, os objetos conhecíveis não deixam de existir por serem úteis
para outros.
23. Associação é o meio de realização da verdadeira natureza do objeto
do Conhecedor e do Possuidor, o Conhecedor (isto é, o tipo de associação
que contribui para a realização do Obse rvador e do observado é esta
conexão).
24. (A associação tem) Avidya ou ignorância como sua causa.
25. A ausência da associação que advém da falta dela (avidya) é liberdade,
e este é o estado de liberação do Observador.
26. Conhecimento discriminativo, claro, distinto (desimpedido) é o meio
para a liberação.
27. Sete tipos de insight vêm a ele (o yogui que desenvolveu a iluminação
discriminativa).
28. Através da prática dos diferentes acessórios do yoga, quando as
impurezas são destruidas, advém a iluminação, culminando na iluminação
discriminativa.
29. Yama (restrição), Niyama (observância), Asana (postura), Pranayama
(regulação da respiração), Pratiahara (restrição dos sentidos), Dharana
(fixação), Dhyana (meditaç& atilde;o) e Samadhi (perfeita concentração),
são os oito meios de se alcançar o yoga.
30. Ahimsa (não-violência), Satya (verdade), Asteya (abster-se do roubo),
Brahmacharya (continência) e Aparigraha (abster-se da avareza), são as
cinco Yamas (formas de restrição).
31. Estas (as restrições), no entanto, são um grande voto quando tornamse
universais, não sendo restringidas por qualquer consideração de
classe, lugar, tempo ou conceito de dever.
32. Pureza, contentamento, austeridade (disciplina mental e física),
svadhyaya (estudo das escrituras e recitação de mantras) e devoção a
Isvara, são as Niyamas (observâncias).
33. Quando estas restrições e observâncias são inibidas por pensamentos
perversos, o oposto deve ser pensado.
34. Acões que advém de pensamentos perversos, como injúria etc, são
realizadas pela própria pessoa, por outras ou aprovadas; são realizadas
tanto pela raiva, quanto pela cobiça ou pela desilusão; e podem ser fracas
moderadas ou intensas. Saber que são causadas por uma miséria e
ignorância infinitas, é um pensamento-contrário.
35. Na medida em que o yogui se torna estabelecido na não-injúria, todos
os seres que se aproximam (do yogui) deixam de ser hostis.
36. Quando a maneira de ser é verdadeira, as palavras (do yogui)
adquirem o poder de fazerem-se frutíferas.
37. Quando o não-roubo é estabelecido, todas as jóias se apresentam (ao
yogui).
38. Quando continência é estabelecida, Virya é adquirida.
39. Atingindo perfeição nas Yamas, advém conhecimento da existência
passada e futura.
40. Da prática da purificação, desapego com relação ao próprio corpo é
desenvolvido, e portanto o desapego se estende a outros corpos.
41. Purificação da mente, setimentos agradáveis, concentração,
subjugação dos sentidos e abilidade para a auto-realização são
adquiridas.
42, A partir do contentamento, felicidade transcendente é ganha.
43. Pensamentos de destruição das impurezas, prática de austeridades
gera perfeição do corpo e dos órgãos.
44. Do estudo e repetição de Mantras, comunhão com a divindade
desejada é estabelecida.
45. Da devoção a Deus, Samadhi é alcançado.
46. Uma forma agradável e pausada (de estar) é Asana (postura yogui).
47. Pelo relaxamento do esforço e meditação no infinito (asanas são
aperfeiçoadas).
48. Disso vem a imunidade com relação a Dvandvas ou condições
opostas.
49. Esta (asana) tendo sido aperfeiçoada, regulação do fluxo da inspiração
e expiração é pranayama (controle da respiração).
50. Este (pranayama) tem uma operação externa (Vahya-vrtti), operação
interna (Abhyantara-vrtti) e supressão (Stambha- vrtti). Isto ainda, quando
observado de acordo com espaço, tempo e número torna-se lo ngo e
sutil.
51. O quarto pranyama trnscende operações internas e externas.
52. Através disso, o véu sobre a manifestação (do conhecimento) é
rarefeito.
53, (Então) a mente adquiri condições para Dharana.
54. Quando separados de seus objetos correspondentes, os órgãos
seguem a natureza da mente (no momento), isto é chamado Pratyahara
(restringir os órgãos).
55. Isto gera supremo controle dos órgãos.
Livro III
Poderes Sobrenaturais
1. Dharana é a fixação da mente (Chitta) em um ponto particular no
espaço.
2. Nela (Dharana) o fluxo contínuo de modificação mental similar é
chamado Dhyana ou meditação.
3. Quando o objeto da meditação sozinho brilha na mente, como que
desprovido até mesmo do pensamento do'Eu' (que está meditando), este
estado é chamado Samadhi ou concentração.
4. Os três juntos no mesmo objeto é chamado Samyama.
5. Dominando isto (Samyama) a luz do conhecimento (Prajna) emerge.
6. Ela (Samyama) deve ser aplicada aos estágios (da prática).
7. Estas três práticas são mais associadas do que as mencionadas
anteriormente.
8. Isso também (deve ser visto) como externo com relação a Nirvija ou
concentração sem semente.
9. Supressão das latências das flutuações e aparecimento das latências do
estado de pausa, acontecendo a cada momento de ausência do estado de
pausa na mesma mente, é a mudança do estado de pausa da mente.
10. Continuidade da mente tranquila (no estado de pausa) é assegurado
por suas impressões latentes.
11. Diminuição da atenção voltada para tudo e desenvolvimento da
concentração (onepointedness) é chamado Samadhi-parinama, ou
mutação da mente concentrada.
12. Lá (em Samadhi) ainda (no estado de concentração) as modificações
passadas e presentes sendo similares é Ekagrata- parinama, ou mutação
do estado estável da mente.
13. Assim explica-se as três mudanças, ou seja, dos atributos essenciais
ou características, das características temporais, e dos estados das Bhutas
e das Indriyas (isto é, todos os fenômenos conhecíveis).
14. Aquilo que continua a sua existência, através das várias
características, nomeadamente: o inativo, isto é, passado; o emergente,
isto é, presente; o imanifesto, (mas que permanece como força potente),
isto é, futuro, é o substrato (ou objeto caracterizado).
15. Mudança de sequência (das características) é a causa das diferênças
mutativas.
16. Conhecimento do passado e do futuro pode advir de Samyama sobre
as três Parinamas (mudanças).
17. Palavra, objeto implicado, e idéia correspondente, produz uma
impressão unificada. Se Samyama for praticada em cada um
separadamente, conhecimento do significado dos sons produzidos por
todos os seres, pode ser adquirido.
18 Pela realização das impressões latentes, conhecimento dos
nascimentos prévios é adquirido.
19. (Pela prática de Samyama) em noções, conhecimento de outras
mentes é desenvolvido.
20 O suporte (ou base) da noção não se torna conhecido, porque este não
é objeto de observação (do yogui).
21. Quando a capacidade de percepção do corpo é suprimida pela prática
de Samyama em seu caracter visual, desaparecimento do corpo é
efetivado, por ficar ele além da esferea de percepção do olho.<> 22.
Karma pode ser rápido ou lento em sua frutificação. Pela prática de
Samyama no Karma,
conhecimento da morte pode ser adquirido.
23. Através de Samyama sobre a amizade, e outras virtudes similares,
obtem-se força.
24. (Pela prática de Samyama) na força (física), a força de elefantes etc,
pode ser adquirida.
25. Aplicando a luz efulgente da percepção superior (Jyotismati),
conhecimento dos objetos sutis, ou coisas invisíveis ou colocadas a
grande distância, pode ser adquirido.
26. (Praticando Samyama) sobre o sol (o ponto no corpo conhecido como
a entrada solar), o conhecimento das regiões cósmicas é adquirido.
27. (Pela prática de Samyama) sobre a lua (a entrada lunar no corpo),
conhecimento do arranjo entre as estrelas é adquirido.
28. (Pela prática de Samyama) na estrela Polar, o movimento das estrelas é
conhecido.
29. (Pela prática de Samyama) no plexo do umbigo, advém conhecimento
da composição do corpo.
30. (Praticando Samyama) na traquéia, fome e sede são restringidas.
31. Calma é alcançada por Samyama no tubo bronquial.
32. (Pela prática de Samyama) na luz coronal, Siddhas podem ser vistos.
33. Do conhecimento denominado Pratibha (intuição), tudo torna-se
conhecido.
34. (Pela prática de Samyama) no coração, conhecimento da mente é
adquirido.
35. Experiência (de prazer ou dor), vem da concepção que não distingue
entre duas entidades extremamente diferentes: Buddhisattva e Purusha.
Tal experiência existe para um outro (isto é, Purusha). Esta é a razão de
através de Samyama em Purusha (que observa todas as experências e
também sua completa cessassão) conhecimento com relação a Purusha
ser adquirido.
36. Portanto (do conhecimento de Purusha), advém Pratibha (intuição),
Sravana (poder sobrenatural de ouvir), Vedana (poder sobrenatural de
tocar), Adarsa (poder sobrenatural de ver), Asvada (poder sobrenatural
gustativo) e Varta (p oder sobrenatural de cheirar).
37. Eles (estes poderes) são impedimentos ao Samadhi, mas são (vistos
como) aquisições no estado normal-mutante da mente.
38. Quando as causas do aprisionamento são enfraquecidas, e os
movimentos da mente conhecidos, a mente pode entrar em outro corpo.
39. Conquistando a força vital (da vida) chamada Udana, a possibilidade
de imersão em água ou lama e envolvimentos dolorosos, são evitados, e a
saida do corpo pela vontade é assegurada.
40 Conquistando a força vital chamada Samana, efulgência é adquirida.
41. Através de Samyama na relação entre Akasa e o poder de ouvir,
capacidade divina de ouvir é adquirida.
42. Através de Samyama na relação entre o corpo e Akasa, e pela
concentração na leveza do algodão ou da lã, passagem através do céu é
assegurada.
43. Quando a concepção inimaginável pode ser mantida fora, isto é, não
conectada com o corpo, é chamada Mahavideha ou a grande
desencarnação. Através de Samyama nisso, o véu que cobre a iluminação
(de Buddhisattva) é removido.
44. Através de Samyama no denso, no caracter essencial, no sutil, a
inerência e a objetividade, que são as cinco formas de Bhutas ou
elementos, maestria sobre Bhutas é conseguida.
45. Então desenvolve-se o poder de minimização assim como outras
aquisições corpóreas. Deixa de existir também, resistência a suas
características.
46. Perfeição do corpo consiste em beleza, graça, força e firmeza
adamantinas.
47. Através de Samyama na receptividade, caracter essencial, sentido de
Eu, qualidade inerente e objetividade dos cinco sentidos, maestria sobre
eles é obtida.
48. Então advém poderes de movimentos rápidos da mente, ação dos
órgãos independente do corpo e maestria sobre Pradhana, a causa
primordial.
49. Para aquele estabelecido no discernimento entre Buddhi e Purusha,
vem a supremacia sobre todos os seres assim como onisciência.
50. Através da renunciação mesmo disto (conquista de Visoka), vem a
liberação em consequência da destruição das sementes do mal.
51. Quando convidado pelos seres celestiais, este convite não deve ser
aceito, nem deve ser causa de vaidade, pois envolve a possibilidade de
consequências indesejáveis.
52. Conhecimento diferenciado do Ser e do não-Ser advém da prática de
Samyama no momento e sua sequência.
53. Quando espécie, caracter temporal e posição de duas coisas
diferentes são indiscerníveis, elas aparentam iguais, no entanto podem
ser diferenciadas (por este conhecimento).
54. O conhecimento do discernimento é Taraka ou intuitivo, compreende
todas as coisas e todo o tempo, e não tem sequência.
55. (Se o discernimento discriminativo secundário é adquirido ou não)
quando igualdade é estabelecida entre Buddhisattva e Purusha na sua
pureza, liberação acontece.
Livro IV
Sobre o Ser-nele-mesmo ou Liberação
1. Poderes sobrenaturais advém com o nascimento, ou são consequidos
através de ervas, encantamentos, austeridades ou concentração.
2. (A mutação do corpo e dos órgãos para aquele nascido em espécie
diferente) acontece através do preenchimento de sua natureza inata.
3. Causas não colocam a natureza em movimento, somente a remoção de
obstáculos acontece através delas. Isso é como um fazendeiro quebrando
a barreira para permitir o fluxo de água. (Os obstáculos sendo removidos
pelas causas, a natureza penetra por ela mesma).
4. Todas as mentes criadas são construidas a partir do sentido-de- -Eu.
5. Uma mente (principal) direciona as várias mentes criadas na variedade
de suas atividades.
6. Delas (mentes com poderes sobrenaturais) as obtidas através da
meditação não têm impressões subliminares.
7. As ações do Yogui não são nem brancas, nem pretas, enquanto as
ações dos outros são de três tipos.
8. Então (das três variedades de karma) manifestam-se as impressões
subconscientes apropriadas às suas consequências.
9. Em função da semelhança entre a memória e suas impressões latentes
correspondentes, as impressões subconscientes dos sentimentos
aparecem simultaneamente, mesmo quando são separadas por
nascimento, es paço e tempo.
10. Desejo de bem-estar sendo eterno, segue-se que a impressão
subconsciente da qual ele advém deve ser sem começo.
11. Em função de serem mantidas juntas pela causa, resultado e objetos
suportes, quando isso se ausenta, as Vasanas desaparecem.
12. O passado e o futuro são em realidade, presente, em suas formas
fundamentais, tendo diferenças apenas nas características das formas
tomadas em tempos diferentes.
13. Características, que são presentes em todos os tempos, são
manifestas e sutis, e são compostas das três Gunas.
14. Em função da mutação coordenada das três Gunas, um objeto aparece
como uma unidade.
15. Apesar da semelhança entre os objetos, em função de haverem
mentes separadas, eles (os objetos e seu conhecimento) seguem
caminhos diferentes, essa é a razão deles serem inteiramente diferentes.
16. Objeto não é dependente de uma mente, porque se assim fosse, o que
aconteceria quando ele não fosse mais cognizado por esta mente?
17, Objetos externos são conhecidos ou desconhecidos para a mente na
medida em que colorem a mente.
18. Em função da imutabilidade de Purusha, que é mestre da mente, as
modificações da mente são sempre conhecidas ou manifestas.
19. Ela (a mente) não é auto-iluminada, sendo um objeto (conhecível).
20. Além disso, ambos (a mente e seus objetos) não podem ser
cognizados simultaneamente.
21. Se a mente fosse iluminada por uma outra mente, então haveria
repetição ad infinitum de mentes iluminadas e inter-mistura de memória.
22. (Portanto) Intransmissível, a Consciência metempirica, refletindo sobre
Buddhi torna-se a causa da consciência de Buddhi.
23. A matéria mental sendo afetada pelo Observador e o observado,
torna-se toda-compreensiva.
24. Ela (a mente) apesar de marcada pelas inimeráveis impressões
subconscientes, existe para um outro, desde que age conjuntamente.
25. Para aquele que conheceu a entidade distinta, isto é Purusha,
inquirição sobre a natureza do próprio Ser, cessa.
26. (Então) A mente se inclina ao conhecimento discriminativo e
naturalmente gravita em direção ao estado de liberação.
27. Através de suas ramificações (isto é, quebras no conhecimento
discriminativo) surgem outras flutuações da mente devido às impressões
latentes (residuais).
28. Tem-se dito que sua remoção (isto é, das flutuações) segue o mesmo
processo da remoção das aflições.
29. Quando o indivíduo torna-se desinteressado mesmo pela onisciência,
ele adquiri iluminação discriminativa perpétua de onde vem a
concentração conhecida como Dharmamegha (nuvem que despeja
virtude).
30. A partir disso, aflições e ações cessam.
31. Então em função da infinitude do conhecimento, livre da cobertura
das impurezas, os objetos conhecíveis aparentam poucos.
32. Depois de sua emergência (nuvem que despeja virtude) as Gunas
tendo cumprido seu propósito, a sequência de suas mutações cessam.
33. O que pertence aos momentos e é indicado pelo término de uma
mutação particular, é sequência.
34. O estado do Ser-nele-mesmo ou liberação, realiza-se quando as
Gunas (tendo promovido experiência e liberação para Purusha) não têm
mais propósito a cumprir e desaparecem em sua substância causal. Em
outras palavras, é Consciência absoluta estabelecida em seu próprio Ser.




Ufa, os aforismos de Patanjali inteiros!
A filosofia merece.

Om Nama Shivaya!

domingo, 15 de março de 2009

A Crise

Em uma casa de swing lotada, todo mundo está comendo e/ou dando para todo mundo. A música tá rolando alto, whisky, cervejas, vodkas e viagras a vontade. A situação é bíblica, nem em Sodoma ou Gamorra havia tanta sacanagem como nesta casa de swing. Até que em determinado momento no meio da sacanagem alguém grita bem alto: "EU TENHO AIDS!!!". Pronto: ninguém sabe se comeu e/ou deu para esta pessoa (e pior... se comeu e/ou deu foi com ou sem camisinha). Quem estava comendo e/ou dando irá parar de comer e/ou dar porque não sabe se a pessoa que está comendo e/ou dando naquele exato momento comeu e/ou deu para a pessoa que gritou que tem AIDS.
Todos avaliam o risco de sua situação e, é certo, não vão mais comer e/ou dar para ninguém mais por um bom tempo (ao menos até saberem se têm ou não AIDS). E quem tinha acabado de chegar na casa de swing e ia começar a comer e/ou dar não vai mais comer e/ou dar.

É esta crise de confiança que abalou a casa de swing que atualmente abala o mercado financeiro: quem estava investindo não investe mais; e quem pensava em começar a investir não investirá mais. A analogia entre a casa de swing e o mercado financeiro é mesmo a mais adequada, afinal, é tudo a mesma coisa: uma grande putaria.

sábado, 14 de março de 2009

A descoberta da Imortalidade


Que tipo de associações a palavra “fênix” (substantivo comum ou próprio) traz à sua cabeça? Nos últimos dias, ao menos para mim, ela conjura imagens dos recentes gols de Ronaldo Fofômeno, digo, Fenômeno, o maior especialista em ressurgir das cinzas do futebol brasileiro. Também me lembra um conto de Neil Gaiman (ele mesmo, o homem da série de quadrinhos “Sandman”) sobre uma sociedade gastronômica que captura, cozinha e come a própria ave Fênix da mitologia, com consequências interessantes. A verdadeira fênix, entretanto, não tem asas, mas tentáculos, e já invadiu os mares do mundo inteiro. Seu nome é Turritopsis nutricula, e ela é uma água-viva.

Se as observações feitas em laboratório estiverem corretas, a T. nutricula é o único animal do nosso planeta a alcançar a imortalidade biológica. Tal como a ave da mitologia, ela alcance o auge do seu ciclo de vida e se reproduz para, num passe de mágica celular, retornar à configuração que tinha no início. Compreender direito esse bicho maluco pode ser a chave para determinar de uma vez por todas se o envelhecimento e a morte são inseparáveis da nossa condição de seres vivos complexos ou se eles são o subproduto de processos que podem ser retardados ou evitados por completo.


Matéria completa em Visões da Vida

sexta-feira, 13 de março de 2009

Ritalin


Folha - Por que você critica o uso de remédios no tratamento de crianças tidas como hiperativas ou disléxicas?
Luca Rischbieter - Há uma enxurrada de diagnósticos precipitados que vêm sendo produzidos por nossos psicopedagogos mesmo antes da invenção recente do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade) e da Ritalina. Em um mundo cada vez mais complexo, cheio de atrativos e com regras pouco homogêneas, é previsível que aumente o número de crianças que não se interessam pela escola e que "fazem bagunça", "atrapalham", "não aprendem". É aqui que encontramos a maior parte dos candidatos a diagnósticos precipitados, sejam eles de dislexia, disgrafia ou hiperatividade.

Folha - Por que esses diagnósticos seriam precipitados?
Rischbieter - Porque eles transformam algumas dificuldades comportamentais que podem ser facilmente contornáveis, na maioria dos casos, em problemas inerentes à criança, em doenças ou síndromes. Isso depois de expor a criança "suspeita" a uma verdadeira via-crúcis de exames e testes, visitas a psicopedagogos, fonoaudiólogos, neurologistas, psiquiatras...

Folha - Que problemas isso pode acarretar para a criança?
Rischbieter - O principal efeito que isso pode causar é abalar a auto-confiança de uma criança que já está meio assustada. Se ela escreve um pouco errado quando seus colegas já não o fazem, é provável que seja taxada de disléxica ou disgráfica. Se é muito agitada, pode ser avaliada como hiperativa. Ela recebe um rótulo no qual a escola acredita, os pais acreditam e, pior, ela própria pode acabar acreditando. O risco maior é que a criança passe a se comportar como se fosse de fato disléxica, agravando dificuldades que ela poderia ter superado facilmente. Há psicopedagogos que agem como verdadeiros "inimigos da infância", pois sabotam a autoconfiança das crianças quando deveriam ajudar a construí-la e a reforçá-la.

Folha - Essa reação pode afetar também os adultos tidos como disléxicos ou hiperativos?
Rischbieter - Sim. Uma amiga minha, vamos chamá-la de Maria, quando tinha uns 28 anos, convenceu-se de que era muito burra, postura que "diagnostico" como sendo de uma pessoa bem inteligente. Gastou o que seriam hoje uns R$ 1.400 para fazer testes cognitivos. A uma certa altura, a psicopedagoga pegou um cronômetro e passou várias continhas para a Maria resolver. Minha amiga, nervosa, se atrapalhou. O veredicto foi: "Discalculia!". Parece piada, mas eu li o relatório da psicopedagoga. Nas conclusões, tinha uma frase inesquecível: Maria "tem os neurônios preguiçosos". Minhas gargalhadas ajudaram a refazer a autoconfiança da minha amiga, mas essa profissional, que escreveu uma barbaridade dessas, continua por aí, tirando dinheiro das famílias e etiquetando adultos e crianças. Infelizmente, ela não é a única. De uns anos para cá, essas pessoas enriqueceram seu potencial de asneiras com a supercientífica "hiperatividade".

Folha - Drogas como a Ritalina são inofensivas?
Rischbieter - Se você digitar a palavra Ritalina no Google ou se pesquisar o termo em inglês (Ritalin), vai encontrar, por exemplo, no dia 1º/7, no "The New York Times": "Ritalina pode aumentar risco de câncer". Há uma saraivada de acusações contra a Ritalina e drogas do mesmo tipo -especialmente uma que tem o fantástico nome de Concerta-, associando-as a episódios de violência, surtos psicóticos, suicídio etc. Ou seja, no mínimo, há muita controvérsia e precisamos de mais pesquisas.

Folha - Como esses remédios funcionam?
Rischbieter - Eles são uma espécie de anfetamina, droga que fez sucesso entre os jovens transgressores da década de 70 e que foi muito indicada para regime de "madame" nos anos 80, porque a pessoa ficava tão ligada que não comia. Agem aumentando a atividade cerebral frontal de um neurotransmissor estimulante chamado dopamina. Ainda é um mistério explicar como a Ritalina é capaz de acalmar crianças inquietas, pois ela deveria excitá-las muito mais. Os neurologistas chamam isso de "efeito paradoxal". Tecnicamente falando, ela é uma verdadeira cocaína light, pois a cocaína também age aumentando a ação da dopamina.

Folha - O que você acha dos pais que apontam melhorias com o uso desses medicamentos em seus filhos?
Rischbieter - Há casos em que, de fato, a medicação "bate bem" e há melhora. Muitas vezes, a criança fica como que paralisada, passa a ser mais quieta e comportada e até melhora seu desempenho escolar, mas ficar feliz com isso me parece algo pavoroso. E, é inegável, muitas só pioram, ficam mais agressivas, algumas babam de verdade.

Folha - Professores alegam trabalhar com alunos desatentos ou muito indisciplinados. Não há um problema real a ser combatido?
Rischbieter - É claro que sim. Não estou negando a existência de cada vez mais crianças com problemas escolares. Elas demonstram cada vez menos interesse pela escola porque, em casa e na rua, há lan house, TV, computador. Além disso, o público que vai à escola não é mais homogêneo como era, há uma explosão de modelos de família, convívio com referenciais diferentes, falta de regras em casa.

Folha - O que pode ser feito para melhorar a vida de crianças que têm dificuldades de aprendizado?
Rischbieter - Em muitos casos, o simples suplemento de atenção que a criança recebe dos pais ou um reforço do enquadramento disciplinar já resolve o problema. Há estratégias que bons psicopedagogos conhecem e que produzem resultados, como buscar caminhos alternativos para ensinar, estabelecer programas de tarefas em parceria com a família e fazer entrevistas psicológicas para tentar entender o fundo emocional que existe por trás de muitas dessas dificuldades. De qualquer forma, há uma grande quantidade de procedimentos que podem ser explorados por pais e educadores antes de decidir dar drogas a uma criança.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Metilfenidato

Cine Íris


Além do q se vê - Los Hermanos

TGA basicão

Segundo Fayol a Administração é uma função distinta das outras funções, como finanças, produção e distribuição, e o trabalho do gerente está distinto das operações técnicas das empresas. Com essa distinção Fayol contribuiu para que se torne mais nítido o papel dos executivos. Identificou catorze princípios que devem ser seguidos para que a Administração seja eficaz. Esses princípios se tornaram uma espécie de prescrição administrativa universal, que segundo Fayol devem ser aplicadas de modo flexível. Os catorze princípios são:

1. Divisão do Trabalho: dividir o trabalho em tarefas especializadas e destinar responsabilidades a indivíduos específicos;
2. Autoridade e Responsabilidade: a autoridade sendo o poder de dar ordens e no poder de se fazer obedecer. Estatutária ( normas legais) e Pessoal (projeção das qualidades do chefe). Responsabilidade resumindo na obrigação de prestar contas, ambas sendo delegadas mutuamente;
3. Disciplina: tornar as expectativas claras e punir as violações;
4. Unidade de Comando: cada agente, para cada ação só deve receber ordens, ou seja, se reportar à um único chefe/gerente;
5. Unidade de Direção: os esforços dos empregados devem centra-se no atingimento dos objetivos organizacionais;
6. Subordinação: prevalência dos interesses gerais da organização;
7. Remuneração do pessoal: sistematicamente recompensar os esforços que sustentam a direção da organização. Deve ser justa, evitando-se a exploração;
8. Centralização: um único núcleo de comando centralizado, atuando de forma similar ao cérebro, que comanda o organismo. Considera que centralizar é aumentar a importância da carga de trabalho do chefe e que descentralizar é distribuir de forma mais homogênea as atribuições e tarefas;
9. Hierarquia: cadeia de comando (cadeia escalar). Também recomendava uma comunicação horizontal embrião do mecanismo de coordenação);
10. Ordem: ordenar as tarefas e os materiais para que possam auxiliar a direção da organização.
11. Eqüidade: disciplina e ordem juntas melhoram o comportamento dos empregados.
12. Estabilidade do Pessoal: promover a lealdade e a longevidade do empregado. Segurança no emprego, as organizações devem buscar reter seus funcionários, evitando o prejuízo/custos decorrente de novos processos de seleção, treinamento e adaptações;
13. Iniciativa: estimular em seus liderados a inciativa para solução dos problemas que se apresentem.Cita Fayol: “ o chefe deve saber sacrificar algumas vezes o seu amor próprio, para dar satisfações desta natureza a seus subordinados”;
14. Espírito de Equipe (União): cultiva o espírito de corpo, a harmonia e o entendimento entre os membros de uma organização. Consciência da identidade de objetivos e esforços. Destinos interligados.

A administração é função distinta das demais (finanças, produção, distribuição, segurança e contabilidade)

da Wikipedia

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É, o Paiol Fayol era afinal um homem esforçado, basicamente influenciado pela necessidade. É impressionante o que uma necessidade é capaz de gerar no homem de força e superação, é o que basicamente dá sentido à vida solitária; uma dedicação, uma urgência, carência, busca... a raiz do desejo. Aliás, é a necessidade a mãe de todas as gestas, a grande arte da organização social.

O resto é justiça, piada, jogo e amor.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Cosmética

Afinação da Interioridade

Júbilo


Para um dos melhores roteiristas da face da Terra, Alan "the Lord of Chaos" Moore. Bravo!





A trilha sonora é impecável, então vão 2 das músicas revisitadas em pleno 2009; coisa de arrepiar cabeça. Eu tava me achando prolixo, então estou me acostumando a parar de falar.

Falaí Bob.

Conjuctio

Divulgação e cultura científica
Por Carlos Vogt

Por Nereide Cerqueira e Marta Kanashiro


A revista ComCiência, em comemoração à sua 100ª edição, publica uma entrevista com seu diretor de redação, Carlos Vogt. Poeta e lingüista, ele trata das origens da revista, da cultura científica e da institucionalização da divulgação científica no Brasil. Vogt, que já foi reitor da Unicamp e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), atualmente é coordenador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor/Unicamp) e Secretário de Ensino Superior do Estado de São Paulo.

Como foi o surgimento da revista ComCiência?

A revista ComCiência nasceu com a primeira turma do Curso de Especialização em Jornalismo Científico, como parte de um processo de formação dos estudantes. Isto é, a revista foi proposta como um laboratório para o exercício dos alunos do curso, para a fazerem a apresentação pública dos textos. O nome ComCiência foi produto de um concurso realizado entre os próprios estudantes, para sugestão de nomes. Desta idéia, de termos uma publicação eletrônica no Labjor para o exercício da produção de textos dos alunos do curso, e da qualidade da produção que observamos, seguiu-se a proposta para SPBC que essa fosse também uma publicação associada Labjor-SBPC.

Em 1999, na reunião do conselho da SBPC, onde estávamos eu e Mônica Macedo (uma das idealizadoras do projeto), fizemos para o conselho uma apresentação da revista. Apesar de incipiente, a ComCiência já estava bem estruturada, com o perfil que prevalece até hoje, e o conselho da SBPC aprovou que a revista passasse a ser uma publicação SBPC-Labjor. Até hoje ela carrega o logo da SBPC como uma das instituições que patrocinam a produção da revista.

O número 100 é interessante porque marca o desenvolvimento de uma publicação que começa como exercício acadêmico, escolar, para formação dos alunos e que continua desse modo, com essa função e, ao mesmo tempo, tem essa expressão mais profissional de publicação na área de divulgação científica. A revista passou a ser um referencial nas publicações eletrônicas, tanto para a leitura descomprometida, por prazer, como se pode ver pelo perfil dos leitores, como também do ponto de vista de formação dos alunos de ensino médio que usam a revista como fonte para trabalhos escolares, e ainda em outro nível, como referência para produção de textos acadêmicos.

A revista não é só uma publicação empenhada na divulgação científica para públicos diversos, seja de ensino médio ou de especialistas, como ela também abarca a formação na área de jornalismo científico e divulgação científica. Isso torna a revista um caso particular. Ela é uma revista de divulgação, mas é um laboratório de formação acadêmica, é uma revista de referência acadêmica porque aparece citada em trabalhos acadêmicos, como teses. E isso tudo porque ela tem uma estrutura, que foi a concepção original da revista, que trabalha com diferentes níveis da divulgação, e associa textos de especialistas sobre um tema específico, com reportagens mais gerais. O que se busca é um equilíbrio entre o olhar mais focado e o mais generalista em torno do assunto que está sendo tratado. Uma outra particularidade da revista é que ela, desde o começo, se propôs tratar da ciência enquanto divulgação científica, no sentido amplo, isto é, tratar das ciências humanas, das ciências exatas, das ciências da vida, das humanidades, isto é, tratar desse universo que é abarcado pelo conceito amplo de cultura científica.

Qual é esse conceito de cultura científica e como isso influi na forma de divulgação científica?

Há um conceito bastante difundido de que cabe à divulgação científica preencher uma lacuna de informação que o leigo não tem em relação à ciência, isto é, que o leigo é, portanto, analfabeto cientificamente. Por isso os norte-americanos chamam essa atividade de scientific literacy, que é alfabetização científica, isto é, tornar, portanto, o leigo informado das questões da ciência. A partir de surveys e enquetes sobre essa questão, notaram que também nos Estados Unidos o percentual da população que tinha informação sobre muitas questões, eventos ou fatos científicos era relativamente pequeno. Esse déficit de informação - teoria do déficit - orientou durante muito tempo as atividades de divulgação. O que cabia à divulgação científica? Cabia suprir o déficit de informação da população leiga em relação à ciência. Portanto, considerava-se como pressuposto que a população leiga era ignorante do ponto de vista científico e era preciso então levar a ela o conhecimento.

Com o decorrer das atividades em vários países, na Inglaterra, na França, na Europa de modo geral, e com o reflexo disso em países como o Brasil, essa teoria do déficit foi sendo substituída por uma visão mais democrática do papel da divulgação científica. Nessa visão, não cabe à divulgação científica apenas levar a informação, mas também atuar de modo a produzir as condições de formação crítica do cidadão em relação à ciência. Não só cabe à divulgação a aquisição de conhecimento e informação, mas a produção de uma reflexão relativa ao papel da ciência, sua função na sociedade, as tomadas de decisão correlatas, fomentos, aos apoios da ciência, seu próprio destino, suas prioridades e assim por diante. Isso vai além da atitude inicial, na qual o cientista era o sábio, o cidadão era o ignorante e o jornalista científico ou divulgador da ciência era o construtor da ponte entre essas figuras, de maneira a suprir o tal déficit de informação. Essa visão foi sendo enriquecida. E, na Inglaterra, desenvolveu-se o que se chama public understanding of science, que é diferente do scientific literacy, do ponto de vista americano e, em seguida, um conceito que é ligado ao primeiro, mas um pouco diferente, que é o public awareness of science. Um é o entendimento público de ciência, e o outro é a consciência pública da ciência. Nesses casos, o que está sendo enfatizado não é só a aquisição da informação, a possibilidade de acesso à informação, mas a formação do cidadão no sentido em que ele possa ter opiniões e uma visão crítica de todo o processo envolvido na produção do conhecimento científico com sua circulação e assim por diante. Esse é um conceito relacionado à cultura científica que modifica os modos de se fazer e pensar a própria divulgação.

Os projetos institucionais do Labjor, que de uma forma geral, envolvem divulgação, e mesmo sua própria concepção de cultura científica, podem ser considerados como instrumentos de inclusão?

O pressuposto é de que se você oferece condições de acesso democrático à informação a toda população, viabiliza um conhecimento que tem a força para socializar, portanto, para produzir o chamado fenômeno da inclusão social do ponto de vista da informação. É claro que questão social é uma questão de fundamento material e econômico. Mas com relação à informação, esses projetos e a proposta de cultura científica são inclusivos, pois promovem informação reflexiva e de qualidade sobre ciência. A revista ComCiência tem pela qualidade dos textos, dos colaboradores e da produção, um papel muito importante. É um site interessante porque ele é livre, é aberto e é em português. É interessante observar, por exemplo, o número de acessos crescente da revista. Hoje tem 800 mil visitações, é um número significativo.

Mas, e quando se trata da ciência em nível decisório?

Com a institucionalização da ciência cada vez mais acentuada e mais forte, e com a sofisticação de toda infra-estrutura necessária para a produção de conhecimento de pesquisa em diferentes áreas, as condições dessa produção foram cada vez mais sendo dependentes também dos investimentos que devem ser feitos para que essas coisas aconteçam. E esses investimentos são disputados por diferentes programas, por diferentes prioridades. E as decisões são decisões que cada vez mais se tomam em fóruns de participação mais aberta, ou seja, não só por cientistas, mas por políticos e empresários. Isto é, quem são os decision makers? Essa história da democracia participativa foi gerando também a necessidade de que a divulgação pudesse cumprir um papel de formação crítica no leigo, que muitas vezes é quem vai representar uma ONG, um sindicato, e para isso não se espera que ele fique lá batendo estaca, batendo o pé no chão, sem a visão crítica da coisa.

Um dos conceitos, uma das conseqüências, um dos efeitos, digamos assim, perlocutórios da ciência e da tecnologia é a questão dos riscos implicados. E isso passou a ser debatido em fóruns que não têm mais o fechamento que tinha antes, em que o cientista decidia isso, o empresário sozinho decidia ou o governo sozinho decidia. Hoje há uma participação tão mais aberta da sociedade, que é necessário que as questões estejam sob um entendimento mais claro, mais desenvolvido. Porque mesmo que uma pessoa não seja um cientista, se ela tiver uma visão minimamente razoável do que se trata, sua decisão, seu voto, a sua participação será uma participação criticamente valiosa. Então, isso vale para as tomadas de decisão, para o destino dos investimentos. Onde botar o dinheiro? Por que botar dinheiro aqui, não botar ali e assim por diante. Quem decide isso?

Eu brinco com uma frase do Nelson Rodrigues que dizia que pênalti é uma coisa tão importante que é o presidente do clube que devia bater, eu digo que ciência é um negócio tão importante que não pode ser decidido só pelos cientistas. Agora, não é só pelos cientistas, é pela sociedade como um todo. Não fazer a ciência, não estou dizendo que você vai votar no piloto do avião, em quem vai ser o piloto do avião, não é isso que estou dizendo. Estou dizendo que essas decisões são decisões que devem ser tomadas em fóruns mais abertos do que fóruns propriamente técnicos.

No Brasil você tem uma instituição que foi criada dentro desse espírito, que é a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) e que tem uma participação representativa de cientistas, de acadêmicos, de agentes governamentais, de sindicatos, etc, e que é um órgão normativo. Então isso é um novo cenário no mundo todo. Estou dizendo isso para enfatizar o fato de que a questão da divulgação tem um papel estratégico principalmente, um papel fundamental do ponto de vista da participação crítica da sociedade como um todo nessas questões de ciência, que dizem respeito aos destinos, às formas, aos investimentos, aos riscos e assim por diante, aos aspectos todos que envolvem a produção científica.

E como o Labjor atua dentro desse contexto de produção e circulação do conhecimento científico?

Eu penso que nós aqui no Labjor entramos exatamente nesse momento de mudança de visão, da science literacy para uma visão mais crítica e reflexiva. O Labjor foi fundado em 1994, e éramos o Alberto Dines, o José Marques de Melo e eu com a idéia de fazermos um laboratório de estudos avançados em jornalismo que tratasse dos temas do jornalismo em geral, desenvolvendo uma atitude crítica, capacitando profissionais. A idéia de nós enfatizarmos uma linha de jornalismo científico surgiu logo em seguida, com a criação do curso. Isso foi em 1997, com a 3ª edição do Pronex (Programa de Apoio a Núcleos de Excelência) - um grande programa nacional criado pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia, administrado pelo CNPq. Apresentamos um programa de desenvolvimento de um núcleo de jornalismo científico, com um programa de pós-graduação, de especialização, incluindo as publicações e linhas de pesquisa. A aprovação desse projeto, na época com 700 e poucos mil reais pra cinco anos, permitiu que traçássemos uma linha de atuação que associou o trabalho de produção das revistas como a ComCiência, Ciência e Cultura, revista Patrimônio e outras publicações, como a revista Inovação e depois Conhecimento e Inovação, com as atividades de formação de pesquisadores e divulgadores na área (de formação, portanto, de educação para divulgação, de educação para a ciência). Portanto, ao mesmo tempo, constituímos linhas de pesquisa que permitissem o aprofundamento do trabalho de formação de especialistas, de produção do conhecimento e de divulgação científica. Foi algo extremamente original e fecundo na história da atividade de divulgação científica, porque criamos um projeto, que incluiu um programa de pós-graduação, linhas de pesquisa, publicações, formação de pessoal, tudo isso com intuito de dar institucionalidade à atividade de divulgação científica como formação, chamando para o curso não só jornalistas, mas especialistas de todas as áreas, como é o caso de vários colegas de curso.

Além disso, é interessante pensar que todo esse cenário que eu estava desenhando, sobre as decisões acerca da ciência e a participação da sociedade nesse processo, isso tudo veio acontecendo junto e, no Brasil, também foi se sentindo a necessidade de iniciativas que apoiassem, que incentivassem, que mobilizassem os acadêmicos, os profissionais, etc no sentido do interesse pelo tema da divulgação. Ao mesmo tempo em que nós estávamos criando o curso, essa coisa toda, a Fapesp estava criando o programa MídiaCiência, com características interessantes porque é um programa para concessão de bolsas de até um ano para que o estudante possa se dedicar à sua formação em divulgação científica. Isso tudo tem a ver com esse cenário que eu estava desenhando, com essa preocupação de se criar condições institucionais, para motivar o médico, o biólogo, o físico, o economista, o engenheiro, os jornalistas, etc, a focar a questão da divulgação científica. O MídiaCiência é um programa ao qual nosso curso recorre bastante intensamente e que tem nos apoiado de maneira muito forte e importante.

De que forma essa trajetória conecta-se com sua proposta de “espiral da cultura científica”?


A atividade científica também é uma atividade cultural específica, tem especificidades, tem características dos pontos de vista lingüístico, sociológico, epistemológico, filosófico. É uma atividade cultural que tem características muito específicas no que diz respeito aos aspectos da produção do conhecimento científico e que tem características que vão se agregando a esta do ponto de vista não só da produção do conhecimento, mas da circulação social do conhecimento científico, pelo ensino, pelas atividades de motivação em torno da ciência e das atividades de divulgação. Então, com isso, eu tentei representar na “espiral da cultura científica” que é a idéia desse movimento.

É claro que isso é uma visão que supõe que o conhecimento, que a história caminha por superação de etapas. Não tem aí ainda os abalos que depois se instalariam e que um pouco estão instalados nessa história de pós-modernidade. O conceito de cultura científica que eu tentei explicitar com a “espiral da cultura científica” possui essa dinâmica, e é algo que está muito presente nas publicações que fazemos. A ComCiência é muito isso. Ela não é uma publicação científica clássica, ela não é uma publicação jornalística no sentido específico. Ela é uma publicação de cultura científica. E a revista Ciência e Cultura é a mesma coisa, porque ela é uma revista que está entre a expressão do especialista e a visão generalista dos temas que são tratados.

É algo que hoje está muito presente nos grandes projetos institucionais que caracterizam as atividades científicas do mundo, não só do país como fora daqui. Os Cepids (Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão) da Fapesp são muito isso. Então, são projetos que supõem produzir conhecimento, pesquisar, portanto, mas também circular esse conhecimento, tanto pelo ensino, pela difusão, como pela divulgação do conhecimento. Assim como, no caso do CInAPCe, que é um programa que tem características fortes de pesquisa, altamente compartimentada, mas multidisciplinar e, ao mesmo tempo, uma atividade que se relaciona fortemente com a interação social desse conhecimento e as relações que se produzem.

O conceito de cultura científica é mais interessante porque é mais amplo, mais envolvente. Permite trabalhar nesses segmentos onde o conhecimento compartilha essa dubiedade que é característica da dinâmica própria do conhecimento que é estar entre a ciência e a arte, e assim por diante. Além do curso de especialização (lato sensu), o mestrado (stricto sensu), que se tornou uma realidade no Labjor agora, é também a expressão institucional desse movimento. Implementar um mestrado em divulgação científica e divulgação cultural é um esforço de tentar trabalhar nessa linha.

O Labjor faz algum tipo de pesquisa, de medição, para avaliar o modo como a ciência e a tecnologia chegam ao público?

Tudo isso deve ser integrado. A ação institucional tem que ser sempre uma ação organizada e organizadora, tem que ser orgânica nesse sentido. As instituições, em geral, são orgânicas, senão, não funciona. Então, por um lado temos a idéia do curso, das revistas, que vão trabalhando com essa questão da divulgação e dessa relação entre ciência e sociedade. Ao mesmo tempo, há a preocupação em colocar o laboratório em linhas de pesquisa que tem a ver com a percepção pública da ciência, isto é, através dos surveys, realizar pesquisa quantitativa e análise qualitativa do modo como a ciência e a tecnologia chegam ao público. Nesse trajeto temos o SAPO (Scientific Automatic Press Observer). É uma mudança em relação às análises centimétricas, como era feita tradicionalmente a avaliação quantitativa da ocorrência dos temas de ciência e tecnologia na mídia, ou o destaque e a importância dados nos jornais para ciência. O que imaginamos para essa mudança foi um dispositivo, um motor de buscas, como é o Google, por exemplo, que faz varreduras e consegue oferecer resultados que podemos quantificar e assim gerar condições para fazer análise qualitativa da freqüentação dos temas de ciência e tecnologia nos jornais e consequentemente do modo, do quanto e do como esses temas são freqüentados pelo leitor.

O curso, as revistas, a percepção pública, o SAPO, tudo isso vai formando partes de um corpo comum, que é trabalhar exatamente essa relação entre ciência e sociedade sobre diferentes entradas e diferentes ângulos. Acredito que isso caracteriza o esforço institucional que realizamos numa universidade como a Unicamp, que tem peso, que tem importância, que forma pesquisadores.

da ComCiência

domingo, 8 de março de 2009

Wild-E

"O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação. "




"O Estado deve fazer o que é útil. O indivíduo deve fazer o que é belo."

citações de Oscar Wilde (1854-1900)

Poquin diciência

Nunca é demais lembrar um dos temas mais importantes da biologia evolutiva: é muito raro, para não dizer impossível, que características importantes surjam do nada. Simplesmente não é assim que a banda toca quando falamos de seres vivos. Sem poder se dar ao luxo de voltar à prancheta de desenho diante de um novo desafio, a evolução trabalha sempre com o que já existe, ajustando um detalhe aqui, aparando uma aresta ali, reciclando incontáveis vezes sua matéria-prima. Foi dessa maneira que os mesmos quatro membros básicos dos vertebrados terrestres viraram asas e nadadeiras, para citar um caso óbvio. Mas o conceito se aplica igualmente bem a algumas de nossas características mentais mais caras e complexas. Um exemplo? A repulsa que sentimos diante dos mais variados tipos de maldades e sacanagens. Segundo esse ponto de vista, o nojo moral nasceu do nojo físico.



A hipótese acaba de ser explorada de forma elegante por Hannah Chapman, da Universidade de Toronto, e outros três colegas canadenses. As pistas que eles seguiram estão, na verdade, acumulando-se cada vez em outros estudos sobre as emoções morais humanas. Parece que as pessoas tomam decisões sobre o certo e o errado de forma muito pouco racional, baseando-se muito mais em instintos morais que estão muito mais ligados à emoção do que ao raciocínio. De quebra, análises do funcionamento do cérebro em “tempo real” (com máquinas de ressonância magnética) indicam que as nossas metáforas linguísticas não são tão metafóricas assim. Quando falamos em “calor humano” ou sentimos o “frio da solidão”, as áreas cerebrais ligadas à sensação física “acendem” por causa da emoção associada com ela. Chega a ser sinistro.

Voltando à repulsa moral: haveria algo mais concreto por trás dos chavões quando dizemos que Hitler ou Stalin eram “nojentos”? Numa pesquisa recentemente publicada na revista especializada americana “Science”, Hannah Chapman e seus colegas investigaram, primeiro, que músculos do rosto são ativados por coisas fisicamente nojentas ou repulsivas. Voluntários recrutados pelo trio tiveram de beber líquidos de sabor neutro, doce ou amargo, e de ver fotografias com cenas de ferimentos, fezes e insetos. (Que delícia, pensará você.) O resultado foi o esperado: as coisas universalmente reconhecidas como nojentas levaram à ativação da região muscular batizada de levator labii. Trocando em miúdos: o lábio superior dos sujeitos ficou arqueado e seu nariz, torcido, fez uma fusquinha, como você pode ver na terceira foto acima.

Agora é que vem o pulo-do-gato. A próxima tarefa dos voluntários foi participar do Jogo do Ultimato, uma brincadeira muito usada para estudar os instintos sociais humanos. Nele, um dos jogadores recebe uma quantia (R$ 10, digamos), que ele tem a liberdade de repartir com um parceiro da maneira que quiser. Só há um porém: se o parceiro achar a proposta do primeiro jogador abusiva e recusá-la, ninguém fica com nada. Estudos anteriores mostraram que, diante de uma oferta muito baixa (R$ 1 ou coisa do tipo), as pessoas preferem não ganhar nada a ser exploradas.

Pois bem: quando um jogador sacaneava o outro no Jogo do Ultimato, os pesquisadores perceberam algo no mínimo curioso. Os participantes passados para trás relatavam, num questionário, o nojo como a emoção mais intensa do momento, seguida meio de longe pela raiva. Ao verem imagens de expressões faciais, também escolhiam a de nojo como a que melhor representava seu estado de espírito. E, de forma nada surpreendente, o levator labii dos que se recusavam a aceitar a oferta injusta foi muito ativado na pesquisa.

É claro que as conclusões são preliminares, mas elas certamente alimentam inúmeras especulações sobre a ligação entre razão, emoção, instinto e linguagem. É impressionante imaginar que o nosso senso de justiça, aparentemente tão abstrato e “elevado”, usa como elevador comportamental uma necessidade básica de todo animal, o nojo que sentimos diante de comida estragada ou de um cadáver putrefato. Longe de ser apenas um fardo do qual precisamos nos libertar, nossa história evolutiva às vezes ajuda nossa espécie a se conectar com o que há de mais nobre em sua trajetória e em seu potencial.

de Visões da Vida

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Um exemplo do que é fazer ciência básica, de acordo com a estrutura de Kuhn. É medição quantitativa de aspectos qualitativos saboreados, usando o paradigma de uma disciplina qualquer.

quinta-feira, 5 de março de 2009

A Maçã, de Vilã à Campeã

Apple é eleita a empresa mais admirada do mundo

A Apple, proprietária das famosas marcas iMac, iPod e iPhone, é a companhia mais admirada do mundo pelo segundo ano consecutivo, segundo ranking elaborado pela revista Fortune. A empresa de Steve Jobs recebeu melhor avaliação e apareceu no topo do ranking em inovação, gestão de pessoal e qualidade dos produtos e serviços.

Na próxima edição, a revista publicará um ranking das 50 empresas mais admiradas, de acordo com uma pesquisa realizada entre empresários e executivos. No universo das companhias listadas, menos de dez são estrangeiras.

Além da mais admirada, a Apple ocupa o segundo lugar entre as empresas com “maior sensatez financeira” e o terceiro lugar no uso de ativos empresariais, na qualidade de gestão e nos investimentos de longo prazo. O co-fundador da empresa, Steve Jobs, que encontra-se no momento afastado por licença médica, é elogiado por sua capacidade de transformar a companhia e tornar sua marca tão prestigiada.

Entre as empresas do setor de informática, a Apple fica atrás da Xerox e está na segunda colocação, à frente de HP, Canon, Sun Microsystems e Dell, respectivamente.

Na ordem do ranking, o segundo lugar entre as empresas mais admiradas no quesito inovação da Fortune coube à Walt Disney, seguida do Google e Amazon.com, que aparece em sétimo.

A segunda empresa na lista geral é o grupo Berkshire Hathaway, que controla uma série de subsidiárias nos setores de seguro e crédito e detém participação em diversas empresas.

As únicas empresas estrangeiras presentes no índice são Toyota Motors (Japão, em 3º), BMW (Alemanha, 28º), Singapore Airlines (Cingapura, 33º), Nestlé (Suíça, 38º), Sony (Japão, 39º), Nokia (Finlândia, 42º), Toyota Industries (Japão, 46º), Accenture (Bermudas, 49º) e Samsung (Coreia do Sul, 50º).

Veja a lista das 50 empresas do ranking:

1. Apple (EUA)
2. Berkshire Hathaway (EUA)
3. Toyota Motor (Japão)
4. Google (EUA)
5. Johnson & Johnson (EUA)
6. Procter & Gamble (EUA)
7. FedEx (EUA)
8. Southwest Airlines (EUA)
9. General Electric (EUA)
10. Microsoft (EUA)
11. Wal-Mart Stores (EUA)
12. Coca-Cola (EUA)
13. Walt Disney (EUA)
14. Wells Fargo (EUA)
15. Goldman Sachs Group (EUA)
16. McDonald’s (EUA)
17. IBM (EUA)
18. 3M (EUA)
19. Target (EUA)
20. JPMorgan Chase (EUA)
21. PepsiCo (EUA)
22. Costco Wholesale (EUA)
23. Nike (EUA)
24. Nordstrom (EUA)
25. Exxon Mobil (EUA)
26. Bank of America (EUA)
27. United Parcel Service (EUA)
28. BMW (Alemanha)
29. American Express (EUA)
30. Hewlett-Packard (EUA)
31. Cisco Systems (EUA)
32. Honda Motor (JPN)
33. Singapore Airlines (Cingapura)
34. Starbucks (EUA)
35. Caterpillar (EUA)
36. Intel (EUA)
37. Marriott International (EUA)
38. Nestlé (Suíça)
39. Sony (Japão)
40. Boeing (EUA)
41. Deere (EUA)
42. Nokia (Finlândia)
43. Northwestern Mutual (EUA)
44. Best Buy (EUA)
45. Geral Mills (EUA)
46. Toyota Industries (Japão)
47. Lowe’s (EUA)
48. AT&T (EUA)
49. Accenture (Bermudas)
50. Samsung Electronics (Coreia do Sul)


Fonte: Época NEGÓCIOS Online