sábado, 5 de abril de 2008

Belo Texto

... que "tem como motivo propulsor a tentativa de esclarecer a passagem do livro X das Leis de Platão, no qual o Estrangeiro de Atenas critica as concepções de natureza de todos os que escreveram peri phúseos. Segundo o autor, essa crítica se justificaria por eles nunca terem admitido a noção de "intenção" (implícita na noção de tékhne) na explicação do universo, o que estaria na base do "ateísmo" da época. Permito-me lembrar que, no Timeu de Platão, essa questão se resolve "miticamente", ou seja, através de um relato que é chamado de eikós múthos ou discurso verossímil (um discurso no qual há uma prevalência do registro da semelhança, típica da representação imagética – Timeu 29D2, 59D6 etc.). Através de uma grandiosa imagem narrativa, Timeu propõe que o mundo foi produzido por um artesão divino (demiourgós) que, tendo no horizonte as formas inteligíveis, infunde inteligibilidade no receptáculo (khóra) ou material do qual é feito o universo. Essa mistura resultaria no melhor arranjo cósmico possível, no qual a Inteligência (noûs) das leis da geometria imposta à Necessidade (anánke) resultaria num mundo ordenado e belo, ou seja, a natureza (phúsis) tal como a conhecemos e na qual está incluída também a pólis. Na medida em que os pensadores da natureza anteriores a Platão não postulam um tal deus inteligente, no início de tudo, eles seriam passíveis de serem criticados por ateísmo."

de O conceito grego de natureza, em Kriterion vol.48 no.116 Belo Horizonte July/Dec. 2007, Scielo, 2008.

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