quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A luta contra o enfeiticamento da linguagem

Wittgenstein

"Um nome representa uma coisa, outra coisa, e estao ligados entre si de tal modo que o todo, como quadro vivo, representa o estado de coisas."

Em outros termos, haveria um paralelismo completo entre o mundo dos fatos reais e as estruturas de linguagem. Nesse sentido, ou seja, na medida em que uma proposicao e uma figuracao da realidade, deve haver nela tantos elementos a serem distinguidos quantos os que existem no estado de coisas afigurado; deve haver uma mesma multiplicidade logica ou matematica entre a figuracao e o que e afigurado. Dessa fora, define-se como forma de representacao aquilo que existe de comum entre a figuracao e o afigurado, e a possibilidade de que as coisas no mundo estejam relacionadas, como o estao os elementos da figuracao, e denominada forma da realidade. Desse modo, uma vez que sao figuracoes, as sentencas possuem a mesma forma da realidade que afiguram.

Mas, embora uma sentenca possa afigurar a realidade, ela nao e capaz, no entanto, de faze-lo no que respeita aa sua propria forma de representacao. Se deve haver algo de identico na figuracao e no afigurado a fim de que uma possa ser a figuracao do outro, entao a forma logica (ao mesmo tempo formada realidade) que todas as figuracoes devem possuir, nao pode ser afigurada por nenhuma figuracao. Caso contrario, cair-se-ia em uma regressao ao infinito, ou seja, seria necessario supor uma segunda linguagem que representaria a primeira, e assim sucessivamente. Por essa razao, Wittgenstein conclui que todo o problema da filosofia reduz-se apenas aa distincao entre o que pode ser dito por meio de proposicoes, isto e, mediante a unica linguagem que existe, e o que nao pode ser dito, apenas mostrado.

A linguagem funciona em seus usos, nao cabendo, portanto, indagar sobre os significados das palavras, mas sobre suas funcoes praticas. Estas sao multiplas e variadas, constituindo multiplas linguagens que sao verdadeiramente formas de vida. Em outros termos, poder-se-ia dizer que o correntemente chamado linguagem e, na verdade, um conjunto de "jogos de linguagem", entre os quais poderiam ser citados seus empregos para indagar, consolar, indignar-se, ou descrever. Wittgenstein compara os jogos delinguagem a ferramentas utilizadas pelo operario, que isa o martelo para martelar, o serrote para serrar, e assim por diante. Da mesma forma, nao ha, para Wittgenstein, uma unica funcao comum das expressoes da linguagem. O que se pode dizer que existe sao certas semelhancas, ou, nas palavra sdo proprio Wirrgenstein, certo "ar de familia", certos parentescos que se combinam, se entrecruzam, se permutam. Nao se pode definir eatamente o que seja um "jogo de linguagem", a nao ser atraves da comparacao entre os tracos semelhantes e definitivos de uma serie de jogos. Com essa colocacao do problema, Wittgenstein aproxima-se muito do estruturalismo desenvolvido por Saussure (1857-1913).

A filosofia deve ensinar ao homem apenas como "ver" as questoes; somente "por aa vista" as perplexidades resultantes do esquecimento das razoes pelas quais se utilizam certos conceitos. Em suma, a filosofia e uma permanente "luta contra o enfeiticamento da linguagem".

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