sábado, 3 de maio de 2008

Utopias

As utopias andam fora de moda. Décadas de realismo, seguidas por um período em que tudo devia soar como relativo, quando todos os referenciais pareciam contestáveis, fizeram com que aqueles capazes de pensar o futuro se retraíssem.

Esse tempo pareceu suficiente para que esquecêssemos que o desejo de um mundo melhor, expresso nas utopias, pertence ao domínio da ética. E o conceito caiu moribundo, abandonado aos seus aspectos de quimera, de ilusão.

Assim como as ficções científicas recriam o real, apondo-lhe elementos de um progresso tecnológico que se antevê possível, também as utopias exigem um apurado entendimento da realidade, que recebe o tempero dos mais nobres ideais, das mais profundas aspirações e dos mais enlevados sonhos de uma sociedade mais aperfeiçoada do que a atual e, nunca nos esqueçamos, de uma sociedade viável.

Os críticos literários afirmam que não é da natureza da utopia que ela se realize. Se pensarmos em termos de uma tentativa de migrar diretamente o fruto da nossa imaginação para nossas organizações políticas, isto está provavelmente correto. Mas o que não se pode perder de vista é que as utopias sempre representaram um referencial, um norte, na busca daquilo que o homem sente que é ético, que é belo e que, sobretudo, é realizável. É delas que nascem nossos planos, nossos projetos, estes sim, passos calculados, amparados pela sensatez e com prazos para realização.

Por tudo isso, foi bom ver a palestra do professor Ignacy Sachs, apresentando corajosamente a sua "biocivilização", uma utopia social na qual todas as tecnologias, atuais e futuras, são pensadas em seu aspecto mais elevado: o atendimento às necessidades das pessoas e da sociedade.

Quanto às demais notícias, perceba que três delas mostram avanços em pesquisas que já foram notícia anteriormente - com um destaque quase apoteótico para um novo componente eletrônico, o memristor. Mas que isto não dê a impressão de que a ciência segue um ritmo linear, no qual todas as descobertas se sucedem naturalmente, e que todas as expectativas iniciais das pesquisas se realizam necessariamente no futuro.

A ciência não funciona assim. Como em toda obra humana, algumas coisas dão certo, outras não; algumas se realizam, outras não. Felizmente, a maioria dos cientistas sonha com um dia em que compreenderemos a natureza de tal forma que a vida do homem será melhor, mais significativa e mais plena. E, por crerem nisso, continuam dedicando suas vidas a darem um passo de cada vez rumo a esse novo mundo. Quando todos os que labutamos em todas as áreas da atividade humana fizermos o mesmo, então estaremos definitivamente transformando nossa utopia em projeto.

Bom fim de semana.
Agostinho Rosa
Editor do http://www.inovacaotecnologica.com.br/

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