sexta-feira, 9 de maio de 2008

Eu e Maynard Pirsig

Terminei de ler o livro do Pirsig, Zen e a Arte de Manutenção de Motocicletas, e valeu a jornada. É um livro minuciosamente constituído e que dá uma visão fantástica do panorama filosófico da Grécia socrática, o que vou procurar elaborar aqui nas poucas linhas adiante.

Saborosa é essa empreitada, que acontece depois que ele começa o curso de doutorado em Análise das Idéias e Estudo dos Métodos, sabendo de antemão que o professor presidente do Conselho deliberativo era um aristotélico inveterado, que primava pela divisão entre forma e substância, coisa dissonante para quem, como ele, pensa a unificação dos saberes em torno do conceito de Qualidade, que descobre ele, na Grécia antiga se dava pelo nome areté, excelência.

O estudo vai chegando mais fundo, ele lê os diálogos de Platão todos -daonde tira seu pseudônimo Fedro-, e a obra dos pré-socráticos, porque desconfia das intenções de Platão. Nos é revelado, então, que Platão é, ele mesmo, um sofista que pela retórica sobre a dialética socrática desmantela os sofistas antes de Sócrates, para que, ele mesmo o maior sofista, fosse louvado pelos tempos. Essa informação é estranha, mas o autor cita que desde os pré-socráticos os sofistas eram os expoentes da sabedoria da época, sendo Sócrates um deles. A dialética, então, a forma de investigação de Sócrates, é ela também a forma de intuição de seus maiores discípulos, Platão e Aristóteles, que desmantelam os sofistas, seguidores de areté, em contraponto à idéia de verdade. A verdade antes era relativista, e era esse o critério que Sócrates usava para descabelar seus conterrâneos, parametrizando por uma medida universal.

E foi a partir dessa épica guerra que a Ciência como forma universal nasce, chegando hoje à biocibernética, satélites e fibra ótica, antes fábulas contadas acerca de magos e alquimistas videntes.

Apesar de E=mc2, existe o real. O mundo científico é aquele que busca explicar a Qualidade, e quanticamente é esta mesma qualidade que é o grande Outro, o dobramento natural do espaço-tempo. E areté, apesar de esquecida, nunca foi tão viva.

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