segunda-feira, 14 de julho de 2008

Sobre a Inteligência Coletiva

A lógica da exclusão que se enraizou nas instituições sociais tem levado pesquisadores de todo o mundo a discutir as bases políticas, econômicas e sócio-culturais que começam a organizar a emergente Sociedade da Informação.

As novas tecnologias, ao tecerem uma rede de complexos espaços do conhecimento, modelam uma sociedade em que processos cognitivos e vitais se misturam, em que os atores sociais são aqueles sujeitos que conseguem manter, com flexibilidade adaptativa, a dinâmica de continuar aprendendo numa imensa rede de ecologias cognitivas.

A construção de uma sociedade que se configure em estado permanente de aprendizagem condiciona uma nova abordagem para o conceito de inteligência. Nessa revolução conceitual, há o rompimento com uma visão reificada e racionalista da inteligência, que classifica e que exclui, para a concepção de uma inteligência construída num processo coletivo e histórico de aprender. É a inteligência das aprendizagens, a que resulta de processos cognitivos e de singularização desencadeados na heterogeneidade dos coletivos.

A teia conceitual que se estrutura a partir dessa abordagem da inteligência aponta para o potencial das redes digitais planetárias, com suas características promissoras de hipertextualidade, de conectividade e de transversalidade, rompendo a lógica racionalista excludente que gera um descompasso dos seres humanos em relação às oportunidades oferecidas pelo próprio potencial tecnológico.

Para Lévy (1996:97), todos os indivíduos humanos são inteligentes por possuírem um conjunto de capacidades para perceber, aprender, imaginar e raciocinar. Muitas vezes essas aptidões são subestimadas por desconsiderar que o exercício dessas capacidades cognitivas implicam, obrigatoriamente, uma ação coletiva ou social. É no coletivo que vamos encontrar os instrumentos intelectuais ou objetos para a reflexão - conhecimentos, valores e ferramentas – que, distribuídos por toda parte, são continuamente valorizados e sinergizados. Modela-se, assim, um projeto individual e coletivo eternamente inconcluso, enriquecido e reinterpretado na transversalidade do espaço e do tempo.

A ação dos instrumentos da inteligência – a linguagem, as ferramentas e os artefatos, as instituições e as regras sociais – articulam uma dimensão coletiva para a inteligência, ratificada pela análise proposta por Lévy (1993:135), em que "... a inteligência ou a cognição são resultados de um rede complexa,... não sou eu que sou inteligente, mas eu com o grupo humano do qual sou membro. O pretenso sujeito inteligente nada mais é do que um dos microatores de uma ecologia cognitiva que o engloba e restringe".

As interconexões digitais, ao pontencializarem a conectividade, criam processos de inteligência coletiva em que indivíduos entram em complementaridade e sinergia, formando um sistema cognitivo em que todos têm competências, conhecimentos e experiências de vida para a produção da coletividade. A inteligência mostra-se com produto da aprendizagem, uma aprendizagem que se operacionaliza na diversidade. Cada nova aprendizagem abre linhas de tempo, novas linhas de aprendizado. É a inteligência das aprendizagens que resgatam as possibilidades humanas, fugindo das identidades e das representações cristalizadas e institucionalizadas.

As novas tecnologias da inteligência e da comunicação, explicitadas por suas redes digitais planetárias, precisam estruturar projetos emancipatórios na constituição de formas de inteligência coletiva, mais flexíveis e democráticas, que busquem a integração e a valorização das singularidades. Segundo Hugo Assmann (1998:13), a tecnologia deve apontar para "...a construção de um projeto de sociedade que traga em sua essência uma forma de pensar que permita a existência de vida antes da morte..." para os excluídos, para os com necessidades educativas especiais, para os sujeitos com problemas psíquicos, para os jovens de periferia desprovidos de capital cultural, condicionando uma forma de pensar mais coerente com a teia da vida.

A evolução do tratamento e a transmissão da informação ao longo da história da humanidade foram decisivas para forjar novas e mais evoluídas formas da inteligência coletiva. Com o avanço dos dispositivos de comunicação, a inteligência distribuída geograficamente, "... valorizada e sinergizada em tempo real..."(Fagundes,1997) , conquista uma dimensão planetária, em que coletividades tornam-se, mais do que nunca, desterritorializadas; segundo Assmann (1998:11), "...a humanidade se descobre reunida num único lugar comum".

texto retirado de uma disciplina da UFRGS, em http://www.niee.ufrgs.br/cursos/topicos2000/alunos2000/debora/i-coletiva.htm

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Essa fase de estudos que inclui Pierre Lévy, Nicholas Negroponte, Theodore Kaczynski, Sthephen Johnson, Luciano Floridi , Castells e outros é uma das áreas de vanguarda no tratamento à informação e no futuro da sociedade. Kaczynski, lógico, o neo-ludita, entra aqui como contra-cultura, mas é sempre bom ter no corpo social algum discípulo de Thoreau. Ele deveria ser tratado ao invés de ter sido deixado sozinho com sua mente estranhamente lúcida mas armagedônica. Poderia ser um brilhante ativista e intelectual, a ponto de ser aplicado o aforisma de Charles de Gaulle no século passado, mas resolveu andar pelos caminhos sombrios do terrorismo ao invés do caminhos ds luzes. Quanto à frase de De Gaulle, foi usada a favor de Sartre:

"Não se prende Voltaire".

E viva a riqueza!

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