domingo, 27 de julho de 2008

Gonzo Tech

Apesar de haver vivido em Los Angeles durante os últimos meses, e de ter começado o ano em outra das capitais cyberpunks do mundo, Mexico DF, o mais moderno que vi em arquitetura, ultimamente, o fizeram (fizemos) uns compas de Sevilla, numa excursão a Barcelona o passado mês de outubro.

Pablo de Soto, do coletivo arquitetônico wewearbuildings, os (ir)responsáveis pelo atentado aos bons costumes acadêmico-artístico-arquitetônicos de que irei escrever, qualificou a ação de "Arquitetura Gonzo". Brilhante! Eu o imaginei como uma mistura de cyberpunk e situacionismo. De algum lado, junto às moléculas de absinto e outros produtos químicos mais pós-modenos que flutuavam no ar, se sentia também um embriagador perfume anarco-zapatista. Cidade instantânea, construção de situações, hackitetura, máquina de guerra, okupação-reconquista do espaço público, distúrbio eletrônico...Viva a nova arquitetura! Estamos no século XXI, pelo menos alguns.

Jornalismo Gonzo é/era o praticado por Hunter S. Thompson nos 60/70. Seu famoso livro sobre os Hell's Angels foi a obra fundadora. Baseia-se em uma prática similar à da observação participativa das ciências sociais, ainda que levada ao limite. O agente que quer investigar uma certa situação não observa de fora com intenção de - impossível - objetividade, se não que passa a fazer parte dos processos que quer conhecer. A particularidade gonzo é que a experiência participativa chega a limites extremos de participação, risco, violência, nos quais desaparece a distância entre o observador e os personagens ou acontecimentos objetos de estudo; o observador se converte no principal protagonista da ação, uma ação sempre transgressora, que para ser gonzo deve implicar alguma espécie de violenta possessão, um devir radical...(É um ensaio provisório de aproximação, espero comentários e/ou definições alternativas).

A arquitetura gonzo seria então a construção de uma situação, - no sentido dos situacionistas, valha a redundância - arquitetônica, urbana, na qual todos os participantes são arrastados a uma experiência radical, transgressora, confrontacional, que chega a limites de ebriedade extática; que dá lugar, - nas palavras de Vaneigem -, à poesia que muda a vida e transforma o mundo. A diferença, o valor adicional, no que diz respeito a uma festa/rave, ou uma boa manifestação, seria uma explícita dimensão espacial-artístico-política do evento.

Uma máquina "arquitetônica" é o veículo para que se produza o encontro.

do rizoma.net

Nenhum comentário:

Postar um comentário