quinta-feira, 24 de julho de 2008

O espelho mágico de Baudrillard

Por Carlos Eduardo Elmadjian, 3º ano de Jornalismo
Faculdade Cásper Líbero

Apesar da popularidade que conquistou com suas idéias, o pensador francês Jean Baudrillard, de 74 anos, está longe de ser uma sumidade no meio intelectual. Mesmo assim, com seu jeito irônico, controverso e provocativo, o filósofo é considerado por muitos como um dos mais influentes críticos da sociedade contemporânea.

Baudrillard começou sua carreira como professor de sociologia na Universidade de Nanterre, em Paris, onde participou ativamente dos protestos estudantis de maio de 1968. Mas, foi a partir de 1977, com o livro Esquecer Foucault (Ed. Rocco), que ele proclamou sua independência como pensador e iniciou um relacionamento conturbado com os padrões estabelecidos pela academia intelectual francesa.

Apontado como "pensador terrorista", "niilista irônico", e até como "Cavaleiro do Apocalipse' por sua visão fatalista sobre a sociedade contemporânea, o filósofo, no entanto, defende-se de qualquer rótulo. "Sou um dissidente da verdade, alguém que não acredita no discurso de uma realidade única e inquestionável", disse em entrevista à revista Época em junho do ano passado.
Para Marcelo Buzato, professor de Teoria da Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Baudrillard "retoma a grande tradição do pensamento filosófico, preocupada com a relação entre o 'real' e o ‘virtual’, que começa com Platão e inclui, recentemente, teóricos como Bourdieu, Weissberg e Pierre Lévy"

Segundo Buzato, boa parte da popularidade que Baudrillard possui hoje se deve ao fato de ele ter se mostrado 'um dos pensadores mais influentes na discussão de como o avanço tecnológico tem modificado nossa relação com 'real''.

Dentro desse campo, o pensador francês afirma que "o mais importante acontecimento da história moderna" foi o desaparecimento da realidade. Em outras palavras, isso quer dizer que não vivemos mais a nossa própria realidade, mas apenas referencias ou ilusões dela mesma. Baudrillard chama esses fenômenos de "simulacros", isto é, simulações malfeitas do real.
Para o filósofo, a conseqüência disso é que caímos em um mundo sem sentido, no qual nos vemos forçados a nos prender em alguma concepção falsa da realidade para esconder a própria contradição dessa realidade.

Há também estudiosos que acreditam que o pensador francês não está tão assustado com essa catástrofe do real. Para Valter Rodrigues, professor de Psicologia da Faculdade Cásper Líbero, "Baudrillard conquistou a mídia e se transformou em um autor midiático". Ironicamente, hoje o filósofo francês ganha a vida realizando palestras pelo mundo inteiro e escrevendo livros bem distantes da academia, desfrutando da contradição de seu próprio nome ter se tornado uma valiosa moeda de troca na sociedade que ele tanto critica.

Rodrigues também acha que o pensador francês se tornou hoje um "niilista reativo, conforme Nietzsche os entendia: o intelectual que levanta algumas questões de oposição ou de crítica ao sistema e constrói seu prestígio em torno dessas questões insolúveis, como a demonstração de que vivemos em uma sociedade de simulacros".

Contudo, em entrevista à jornalista Scheila Leimer, em 1999, Baudrillard negou esse envolvimento com o mundo da mídia: "Coloco-me num universo paralelo, onde não há contradição violenta com o sistema dominante(...), estou na singularidade".

As influências do filósofo vão desde Marx, Nietzsche e Freud, até os antropólogos Levi-Strauss e Mauss, mas seu olhar está sempre voltado para o presente. Ele discute política internacional do mesmo modo como fala de comportamento sexual.

O pensador francês também não se incomoda nem um pouco em romper com dogmas acadêmicos ou morais. Baudrillard põe em questão Foucault, o imperialismo norte-americano, a política interna francesa e até a arte contemporânea, muitas vezes criando controvérsias e ganhando, por isso, uma fama que ultrapassa as barreiras da intelectualidade.

Aliás, essa fama ganhou proporções exageradas depois de os irmãos Wachovski terem admitido que se inspiraram em seu livro Simulacros e Simulação (ed. Relógio D´Água) para escrever o roteiro do filme Matrix. Entretanto, na mesma entrevista à Época, o filósofo faz questão de lembrar que não aprova sua participação involuntária no enredo: "Matrix faz uma leitura ingênua entre a ilusão e a realidade". Para Baudrillard, a distância entre o que é considerado real e irreal é muito mais tênue do que aquela apresentada pelo filme.

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