sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Signos e Transcriação

É universal que os signos são a substância que iniciam qualquer pessoa em algum conhecimento especializado, esotérico. Muitas vidas são criadas por meio deles, muitas são vividas por eles, símbolos estão desde os primórdios guiando a busca pelo que idealmente representa a plenitude da vida, sendo os mapas e princípios moldados desde a epigênese humana para a aventura da felicidade.

Algo interessante num símbolo é que ele costuma representar imageticamente a mesma idéia em toda parte do Globo, embora com juízos morais diferentes. Então, apesar das idéias serem as mesmas, as práticas são diferentes pelos humores e culturas de cada povo. Isso se manifesta na forma de expressar o que há na mente, a linguagem.

Estudos hoje em dia em filologia estão transformando a forma de tradução e transcrição de textos clássicos, por causa de um estudo mais aprofundado dos radicais nas nuances e práticas simbólicas de um povo, o que finalmente traz ao assunto desse post: a coleção Signos, da
Editora Perspectiva, dirigida por Haroldo de Campos. A grande sacada do Haroldo foi o neologismo Transcriação, que ele bem cunhou pra dizer que não transcrevia os textos das suas linguagens de origem, e sim transcriava pela procura na gênese da linguagem as idéias fundamentais que estariam simbolizadas no texto. Todos os livros dessa coleção são transcriados nessa ótica.

Destes eu já li Bere'shit, do próprio Haroldo de Campos, e agora leio As Bacantes, de Eurípedes, transcriado por Trajano Vieira. São experiências filologicamente fascinantes. Copio aqui um trecho da apresentação de As Bacantes:

"Excêntrico ao Cosmos, marginal ao Olimpo, Dioniso volta à cena para assumir o papel de símbolo. O exílio é um aspecto essencial de sua biografia, constitui o âmago da figura mitológica grega mais recorrente no imaginário social. Sua expressão é arquetípica, se considerarmos que as mais distintas manifestações de transe, de êxtase e de transgressão possuem algo do deus do vinho. O teatro é o espaço privilegiado por esse personagem que adota a máscara sorridente como signo da invenção. Invenção do gesto, mas também da identidade e, sobretudo, da linguagem. Avesso à redundância, Baco ri de quem resiste à renovação e o pune com a loucura. Penteu representa o chefe de Estado obtuso, cujo poder presumido sofre implosão.
...
O rompimento do esquema hierárquico está conectado com a invenção artística."


Isso me lembrou a absolvição criminosa de Renan Calheiros, e a mentira de alguns quando da apuração pública dos votos. A politicagem lá de Brasília realmente precisa de um jeito dionisíaco.

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